sexta-feira, 27 de julho de 2018

ORIENTAÇÕES GERAIS III ECONTRO NACIONAL , A NOSSA LUTA UNIFICADA, ANLU, 31 DE AGOSTO, 01 e 02 DE SETEMBRO, RIO DE JANEIRO-RJ. TEMA: “Os Desafios de Organização Política no Movimento Negro Unificado (MNU) para o Fortalecimento Estratégico da Esquerda Negra Brasileira”. PROGRAMAÇÃO DE DEBATES: Mesa 1 > Abertura em 31-08, Análise da Conjuntura Política nos 40 Anos do MNU. Mesa 2 > 01-09. Organização Política da ANLU. Balanço e Desafios. Mesa 3 > 02-09. Estratégias e Resoluções Finais. OBJETIVO: Fazer um balanço dos 8 anos de ANLU, definir as orientações centrais estratégicas para o próximo período, desbaratar incompatibilidades internas debatendo as questões que determinam essas contradições. Refletir sobre as diferentes centralizações políticas a partir da dubiedade do ativismo em campos de orientações opostas; e aspectos da multiplicidade de referências que geram ações de indeliberação, irresolução , indeterminação. Debater com transparência a nossa relação com as correntes e partidos de orientação de teórias clássicas eurocêntricas. Fortalecer a ANLU como referência de pensamento da filosofia africana. Reunir lideranças convidadas para contribuírem no debate de fortalecimento de estratégias do movimento negro do campo democrático e popular. JUSTIFICATIVA: A ANLU é um campo político, fundado em 2010 no I Encontro em SP, teve papel fundamental na reconstrução do MNU articulando e realizando o XVII Congresso Nacional do MNU, em Salvador, 2014, após total estagnação da direção nacional nas gestões de 2005 e 2009. A ANLU compôs a maioria da CON a partir de 2014, em 2017 realizou o maior Congresso Nacional da história do MNU, em Brasília. Durante a atual gestão ainda temos que equalizar nossas ações coletivas enquanto campo político. É inevitável resolvermos as incompatibilidades internas deflagrando debates sobre os fatores externos e dubiedades da nossa militância que debilitam a priorização da construção efetiva do nosso campo político. Temos que definir nosso posicionamento nas eleições 2018 e nossa relação na defesa de programas governamentais. A ANLU deve ocupar posição central na articulação do fortalecimento da Esquerda Negra Brasileira. METODOLOGIA: Serão realizados pré encontros, municipais, regionais ou estaduais que deverão ser agendados, imediatamente, até dezoito de agosto, pelos representantes de cada região; o comitê nacional da ANLU composto pela executiva da ANLU e, no mínimo um representante de cada estado , informará, articulará e supervisionará essas agendas. O III Nacional da ANLU terá o caráter de reunir quadros dirigentes, militantes orgânicos e convidados respaldados por nossos integrantes para debaterem os temas apresentados na programação. Não há meta de participação quantitativa, a representação mobilizada será a partir dos estados que já estamos organizados (RS, SP, MG, DF, RJ, PE, BA, TO, SE, PR ) buscando adesões em outros. O evento será estruturado a partir das seguintes comissões; Comunicação (Emir,Lena): informativos, faixa, banner , cadernos, materiais gráficos, foto e vídeo. Infraestrutura (Lucas,Hugo,Walmyr): recepção de convidados, hospedagem, alimentação, acolhimento. Organização (Richard, Aline Costa, Carmem Maia): programação, composição de mesas e grupos de trabalho, relatórios e documentos Articulação nos Estados (Carlinhos, Miguel): contatos interestaduais. Eventos Culturais e Troca de Saberes (ANLU-RJ): atividades culturais, confraternizações, e troca de conhecimentos. A referência para informações gerais será o blog da ANLU. http://anlunossalutaunificada.blogspot.com/. DEMANDAS: Publicar orientações gerais aos participantes. Consolidar a realização dos encontros regionais e articulações interestaduais.

Ebook - ANLU . 2010-2018. TRAJETÓRIA COLETIVA DE CONSTRUÇÃO DE ESTRATÉGIAS AFROCENTRADAS. 8 ANOS DE RESISTÊNCIA.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

III ENCONTRO NACIONAL DA ANLU – A NOSSA LUTA UNIFICADA – CAMPO DE REFLEXÃO, ANÁLISE E ARTICULAÇÃO POLÍTICA DO MNU – MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO. MARIELLE FRANCO, PRESENTE! PROGRAMAÇÃO: PLENÁRIAS MUNICIPAIS E REGIONAIS: ATÉ 26 DE AGOSTO. IIII ENCONTRO NACIONAL DA ANLU: 31 DE AGOSTO, 01 E 02 DE SETEMBRO -2018. SINDISPREV -RIO DE JANEIRO -RJ. TEMA: “Os Desafios da Organização Política, Movimento Negro Unificado (MNU), para o Fortalecimento Estratégico da Esquerda Negra Brasileira”. PROGRAMAÇÃO DE DEBATES > Análise da Conjuntura Política nos 40 anos do MNU – Organização Política da ANLU. Balanço e Desafios. – Estratégias e Resoluções Finais. O nosso campo político completará em 2018, oito anos de existência, algo díspar na história da nossa organização. O princípio de fortalecer o MNU – Movimento Negro Unificado tem prevalecido nesse período que se aproxima de uma década. Hoje, podemos encarar as bravatas com ceticismo e afirmar que a história recente nos garante o legado objetivo de reconstruir nacionalmente o MNU após as catastróficas gestões que nos deixaram á deriva a partir dos Congressos de Lauro de Freitas (XV), Bahia, 2005, e Itapecerica da Serra (XVI), em São Paulo, 2009. Nada é perfeito, temos vários problemas de insuficiência interna, mas o conjunto de nossa obra traz resultados concretos que propiciaram a continuidade digna de nossa organização que estava estagnada á beira desse grande marco, os 40 anos do MNU- Movimento Negro Unificado, exemplo de uma condução responsável. A responsabilidade política em garantir a democracia interna e conviver com as diferenças sem promover o ódio resplandeceu oportunidades para novas gerações de militantes e dirigentes adentrarem em nossos quadros. Enquanto isso nossos adversários se preocuparam exclusivamente em derrotar a ANLU, aglutinando e usando pessoas para a sobrevivência individual de antigos quadros que não apresentavam nada de concreto. Isto, sem maiores preocupações com reflexões teóricas ou estratégicas, bem como, demonstrando ineficiência em apresentar proposições viáveis para fortalecer uma plataforma de ações possíveis no contexto real das relações políticas raciais e relações de poder na sociedade brasileira monopolizada por grandes grupos de interesses. Nesse momento, a ANLU não pode cair em provocações rasteiras, temos que propor um debate qualificado a partir de uma agenda interna coletiva e sem verticalizações e imposições, repudiamos mandatários. Somos um campo incipiente, mas na contramão do verticalismo, temos estimulado a formulação teórica e a participação política coletiva; o resultado pragmático é a adesão de nossos jovens dirigentes nacionais. Há em curso um processo desesperador de despolitização e desqualificação dessa experiência de interação política construída pela ANLU que soube construir um ponto de vista independente do indivíduo, no que tange seu interesse imediato, e priorizou o princípio de autonomia intelectual de pensamento coletivo estratégico. Somos uma força política contra hegemônica ao classicismo teórico europeu e sua natureza racista preservada nas instituições políticas brasileiras, inclusive nos partidos de esquerda. Na prática esse ponto de vista ainda está muito distante da mentalidade do movimento negro brasileiro; nossa cultura de ativismo ainda está arraigada á lógica das correntes eurocêntricas e suas organizações políticas partidárias que ocuparam espaço institucional Pós Democratização, em 1988, com a efetivação da Constituição Federal. Fácil de compreender, foi a única alternativa no período da redemocratização. Porém, temos que exercitar a lucidez em entender que estamos por nossa própria conta e sermos persistentes em buscar nossa autonomia enquanto Organização Política Negra. Conquistamos a legitimidade e a coerência política de sermos a autêntica Esquerda Negra Brasileira. É legítimo, resultado de nossa persistência, determinação e consciência negra desde a ditadura militar quando surgimos; sempre apontamos à décadas que havia uma elite oligárquica racista e fascista , mesmo assim o pragmatismo da governabilidade e coligações políticas dos partidos de centro esquerda em aliar-se á esse sistema, acabou naufragando. Não foi por falta de aviso, em muitos momentos o MNU ficou isolado por nossas posições, hoje referência. Erraram drasticamente em aliar-se aos conluios das grandes corporações do agronegócio, construção civil e setores industriais de consumo. O fortalecimento das bases sociais e organizações populares não fizeram parte desse projeto, nem mesmo como participação política na democratização popular dos mecanismos partidários da esquerda branca brasileira. As lideranças que conquistam mandatos por altas cifras se mantém na direção partidária. O resultado está aí, uma crise sem precedentes. Não podemos cair no engodo que só o Golpe do Governo Temer é responsável por tudo isso...”Ledo Engano”. O MNU não pode pagar esse preço, temos que ter a coragem e capacidade de dialogar direto com a sociedade brasileira. Temos que ser protagonistas de um novo Campo Democrático e Popular e saber compor enquanto força política para consolidação de programas estratégicos de desenvolvimento nacional, que contemple objetivamente medidas efetivas de combate ao racismo e que sejam compatíveis às necessidades de 54% população brasileira, os afrodescendentes. Nossas iniciativas ainda estão calçadas em insuficientes iniciativas pontuais e quase sempre individuais. Seria simplório encararmos nossa própria existência como parte de uma massa negra eternamente de base que sustenta as aspirações de retomada de poder dos partidos tradicionais, mesmo de esquerda. O que proporemos agora ¿ Essas instituições estão sob uma agenda defensiva, onde todos os dias justificam erros inadmissíveis para qualquer princípio igualitário e de justiça para o Bem Estar Social, nossas lideranças não podem cumprir um papel meramente coadjuvante de constante defesa intransigente de um sistema que ainda é excludente. Nossas posições oficiais e participação política em defesa de Dilma e Lula – e sua liberdade- é dever e coerência em defesa da verdadeira justiça e democracia. Temos consciência e reconhecimento que esses governos democratizaram as políticas públicas para a população negra. Porém, uma Organização Negra de Vanguarda não pode ficar só por aí, esperando o que teremos que gritar e qual agenda deveremos seguir, temos que ser estrategicamente propositivos e disputar espaço real na sociedade. Parece que aos negros é cobrado um agradecimento, que temos uma dívida. Não !!! Temos que disputar base social, organizá-la e abandonarmos a cultura de personalidades políticas que interagem e digladiam espaços institucionais somente entre si, essa Era dos grandes mitos acabou. Vejam o que está acontecendo no Brasil, uma crise sem precedentes, as lideranças negras de esquerda não podem se acostumar a interagir como meros serviçais. Não podemos subjugar nossa capacidade de sermos parte protagonista de um novo projeto para o país; só promovendo grandes debates e rompendo o isolamento intelectual conseguiremos avançar. A ANLU tem que incentivar as articulações estratégicas internas para que o individualismo e o fisiologismo não voltem á imperar no interior de nossa organização ; a ANLU tem que seguir seu caminho de promover continuamente análises e reflexões elucidativas sobre temas crucias para o fortalecimento de nossa organização e sua ação política na sociedade. Internamente temos que decidir que ANLU queremos, não podemos escamotear os reais motivos que promovem diferenças e divergências de concepção interna; seremos um campo aberto às intervenções das correntes da esquerda branca ¿ Dentro da ANLU permitiremos a organização de correntes eurocêntricas ¿ Por outro lado, a sociedade brasileira está em alta efervescência e temos que ficar atentos em combater veementemente visões reacionárias e liberais de centro direita. Ou seja, estamos no meio do caminho da opressão intelectual construindo um Campo Político Filosófico Pan-Africanista, as contradições interagem em todos os lados; o que realmente queremos ¿ A Nossa Luta Unificada não pode se transformar num campo do romantismo político confortável. A responsabilidade pelo fortalecimento do MNU, e seus mecanismos organizacionais, mesmo que muitas vezes vulneráveis, traz novos desafio à ANLU: - Trazer ao III Encontro Nacional temas emblemáticos como a retomada da transição de “Entidade para Organização Política”. Temos que propor um arcabouço estatutário atualizado que garanta a implementação do processo banido pelas referidas gestões anteriores. Chegamos a realizar um Congresso Extraordinário em Vassouras-RJ,2000. - Esse debate é fundamental para enfrentar a desfaçatez e dissimulação da dubiedade na militância política e suas contradições; interagir centralizado em várias organizações políticas de matizes totalmente contraditórias não é saudável e convicto em qualquer processo dito de transformação social ou revolucionário. - Não é admissível a capacidade de enquadramento e centralização que as correntes eurocêntricas exercem sobre a nossa militância a ponto de promover o enfraquecimento psicológico e o constrangimento de nossos militantes, bem como, a exposição do MNU – Movimento Negro Unificado e seus dirigentes. - Temos que debater sobre as eleições 2018 e nossa relação com os partidos, de forma nítida e transparente. É fundamental o compromisso governamental com Programas de Ações Afirmativas. - Temos que debater se, estrategicamente, disputaremos essa Democracia Representativa definida pelo poder econômico e alimentada pela corrupção crônica ou optaremos pelo protagonismo de uma trajetória de transformações sociais que contestem e deslegitimem essas instituições do Estado Capitalista. Esses são temas plausíveis para os debates na ANLU. Construiremos candidaturas negras ¿ A tradição de garantir a liberdade de expressão e articulação individual e coletiva faz parte dos 40 anos de efervescência política da maior referência de vanguarda negra do campo de esquerda democrático e popular, o MNU. Já passamos por vários períodos distintos influenciados estritamente por lideranças internas que ocupavam espaços institucionais e compunham a linha de frente de nossa organização em diferentes contextos políticos do país. O perfil de nossos dirigentes passa naturalmente por mutações constantes desde o marco de fundação, em 1978. Mandatos parlamentares, grupos regionais e campos internos nacionais ( Raça, Raça e Classe, Raça Território) sempre fizeram parte de nossa organização de pluralidade na correlação de força e pensamento político. É necessário compreendermos com lucidez que em quatro décadas o Mundo sofreu transformações sociais e econômicas exigindo um exercício aprofundado de revisão de pensamento estratégico e, consequentemente, contemporâneo que traga novos princípios “organizacionais” de resistência negra. Nesse contexto ainda nos deparamos com visões que repudiam e desqualificam veementemente qualquer iniciativa mais reflexiva ou mesmo teórica sobre os rumos e desafios de nossas ações no MNU e suas externalidades. O personalismo e individualismo são agentes que tentam se prevalecer evidenciando em todo momento e, ás vezes, sem perceber a necessidade de ascensão do sujeito além da organização, ou sobre o papel da instituição. É evidente a defasagem de um pensamento intelectual negro coletivo que trate e apresente estratégias para o desenvolvimento sócio, econômico do país sob o nosso olhar. Há certa atrofia psicossomática que vem tornando invisível a possibilidade de acreditarmos na prioridade de sermos sujeitos organizados a partir de si próprios. O MNU não escreve mais, não há teses e formulações em nossos Congressos, só a ANLU vem formulando nesses últimos 8 anos. Os fatos lamentáveis do XVIII Congresso afirmam essa precariedade. Fortalecer o MNU, esse é nosso desafio. Vem pra ANLU! EXECUTIVA NACIONAL da ANLU: Emir Silva, RS. Carlos Augusto,SE. Lenyr Souza,RJ. Paulo Azarias,MG. Adeildo Araújo,PE. Raimundo Bujão – BA, Ronaldo Oliveira, DF. 23 DE MARÇO DE 2018. VIDA LONGA AO MNU !

domingo, 20 de maio de 2018

DOCUMENTO BASE DA ANLU - APRESENTADO NO XVII CONGRESSO NACIONAL DO MNU, SALVADOR, 2014.

CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE ANLU – A NOSSA LUTA UNIFICADA Campo de Reflexão, Análise e Articulação Política do MNU. XVII CONGRESSO NACIONAL DO MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO - MNU “Existe um pensamento, a nossa ação não é aleatória”. 2014 INTRODUÇÃO O XVII Congresso Nacional do Movimento Negro Unificado – MNU, que acontece em Salvador - Bahia, de 15 a 17 de agosto de 2014, exige uma análise aprofundada sobre a mais aproximada contextualização dos nossos principais desafios no século XXI. Enquanto vanguarda do movimento negro brasileiro, devemos identificar em nosso próprio histórico de construção política, a necessidade de exposição de um método que explane os nossos 36 anos de existência. Temos que abordar as nossas devidas conquistas e seus aspectos conjunturais no Brasil e no Mundo. Aliás, sabemos realmente como estamos em relação à sociedade atual? Por exemplo, no contexto contemporâneo, a exaltação da negritude em programas e reportagens jornalísticas reforçam alusões generalizadas em relação ao racismo. Agora, mais do que nunca, qualquer movimentação grupal ou representação individual pode ser considerada movimento negro. Inclusive, de não negros. Talvez, seja a fragmentação da fragmentação da retórica da política racial surgida nos meados da década de 90. Naquela época, sob influência nefasta do neoliberalismo e do terceiro setor, que determinou a proliferação de milhares de Organizações Não Governamentais – ONG`S. Agora, há uma ação mais individualista, talvez sob um processo de multiplicação exacerbada do discurso de promoção da igualdade racial, a partir da efetivação das políticas de cotas. Na verdade, quando debatíamos as políticas integracionistas, em meados da década de 90, não acreditávamos que o Estado seria tão frágil e vulnerável a ponto de implementá-las. Estávamos pensando em, “exigindo cotas” reforçar a nossa bandeira de luta e pressionar mais o poder público. O fato é que não tínhamos a verdadeira dimensão do que plantaríamos. É como se depois, não tivéssemos tecnologia e maquinário para a própria colheita. Talvez, a nossa relação institucionalizada, no âmbito governamental e partidário, ainda seja uma terceirização desse protagonismo que é nosso. Só mudaremos, quando nos constituirmos enquanto uma Organização Política Autônoma e Corrente da Esquerda Brasileira e Mundial. A veiculação da temática racial “em massa” abrange milhões de pessoas destruindo e reforçando estereótipos e criando uma grande vulnerabilidade conceitual muito aquém do que pensamos. Com certeza é uma grande conquista, mas, no jogo das contradições produzidas pela grande mídia, o mito da democracia racial é reforçado sem que percebamos de fato. Artistas e personalidades intelectuais com visibilidade pública assumem um discurso positivista às Ações Afirmativas, mesmo integrando instituições e organizações capitalistas ou integradas à lógica social democrata de “centro” também inserida nas relações de poder econômico. Sim, nós, do Movimento Negro Unificado, temos que ser a referência. Temos que fazer a leitura sobre o contexto e nos recolocar no cenário público de comunicação social expondo o nosso ponto de vista político. Também temos que fortalecer o movimento negro organizado. Afinal de contas, temos uma grande base social sem direção política. Muitos dos autodeclarados negros e negras, ou contemplados sob o critério de baixa renda social e oriundos do ensino público, ainda não sabem que são sujeitos de um projeto político estratégico de poder do ponto de vista do povo negro. Esse texto de apoio é apenas um instrumento inicial para subsidiar o nosso debate congressual. Precisamos analisar o nosso próprio histórico para definir táticas adequadas para enfrentar o cenário “moderno” de revolução tecnológica e da política amigável. Estamos sob um novo dilema. Ouve-se em geral: Não podemos criar animosidade entre negros e brancos no Brasil incentivando a divisão das raças. De fato, não existe uma contraposição articulada, temos que recolocar nossas posições. Mesmo que exercitemos esse modo de raciocínio, de antemão, temos a necessidade interna de buscar informações do nosso acervo documental espalhado pelo país e, principalmente, da memória e da oralidade dos nossos ativistas. A retomada de um processo teórico de formulação de teses, por exemplo, estará sempre relacionada ao reordenamento da nossa vida organizacional coletiva e democrática, bem como, da reintegração de nossos quadros militantes que consigo tragam muita consciência negra e a verdadeira solidariedade. É urgente que apresentemos um projeto financiado para o resgate institucional do nosso acervo documental a ponto de perdermos uma grande parte da história de resistência negra no Brasil. Quem deve ser o idealizador desse processo é o próprio MNU. Por outro lado, nada seria tão gratificante quanto a colaboração das pessoas que se integraram à nossa organização a pouco tempo, ou mesmo as que concebem parte da nossa história. Também necessitamos de renovação das novas gerações de negros e negras; os jovens negros e negras contemporâneos são prioridade para a transição e transformação de uma organização quase quarentona. Ideias novas sob um ambiente moderno, arejado e sem os vícios da política tradicional brasileira são elementos fundamentais. Temos que fortalecer o alicerce de parâmetros de equilíbrio e proporcionalidade de posições para um ambiente democrático. Conforme, Frantz Fanon, os jovens negros que leem e internalizam sua visão respondem com fervor às suas ideias, são, ademais, pessoas que lutam intensamente contra um sistema que não tem certeza que podem derrubar. Porém, para Fanon, o importante é a transformação, a mutação interior que ocorre durante a luta, o modo como “os condenados da terra” se libertam durante a confrontação inevitável entre opressores e oprimidos. Essa concepção de libertação também tem como grande base a luta de resistência das mulheres negras. Em 2015 estarão realizando a I Marcha Nacional, em Brasília. Entre tantas guerreiras, uma grande referência é Winnie Mandela, que para os “boêres” era a encarnação do perigo negro que precisava ser combatido por todos os meios. Sua vida personifica a libertação dos negros. Sua vida de sofrimentos representa o seu povo condenado ao silêncio. O que a distingue não é apenas o seu carisma pessoal e político. Mas seu engajamento apaixonado em construir uma África do Sul em que os negros e negras pudessem ter direitos iguais. Ela dizia: O futuro da África do Sul será multirracial; por esse ideal daria a minha vida, sacrificaria tudo; casamento, família, profissão e liberdade. Nesse cenário congressual devemos ressaltar algumas constatações que permeiam a cronologia de nossa organização desde seus primórdios. Notadamente, consta em nossos documentos, desde o período de nossa fundação, a constante necessidade de “reestruturação” e em certos momentos até de “reorganização”. Entre outros dilemas, trazemos o fardo da política inclusa de “finanças” ou mesmo que tais resoluções congressuais não foram cumpridas, ou que nossos dirigentes não deram conta de seus mandatos, enfim. A partir daí, poderíamos refletir sobre outros argumentos positivos que concretamente foram incorporados e protagonizamos pelo Movimento Negro Unificado. Por exemplo, nesses 36 anos, exercemos um “alto grau de intelectualidade e idealização”, a ponto de, por meio da luta contra o racismo pautar toda a sociedade brasileira. Isto, com certeza, é o nosso grande êxito. Inicialmente, em 1978, durante a ditadura militar, denunciávamos a desigualdade racial na contramão da elite política e cultural brasileira. Estávamos nascendo sobre o legado histórico de revoltas e insurreições escravas e quilombolas, das lutas abolicionistas, da Frente Negra Brasileira década de 30. Do TEN – Teatro Experimental do Negro e o 1º Congresso do Negro Brasileiro, em 1950, idealizado por Abdias do Nascimento. Vejam, por exemplo, a iniciativa Pan - Africanista. Tivemos grande influência da Luta aos Direitos Civis nos Estados Unidos, liderada por Martin Luther King Jr, Malcom X, Ângela Davis, e o movimento Black Power dos Panteras Negras. Na diáspora, lutamos contra o apartheid segregacionista na África do Sul e a prisão de Nelson Mandela. Apoiamos a Luta de Libertação e Independência dos Países africanos Colonizados. Nesse sentido, algumas constatações são evidentes, ou seja, na diversidade de nossas conquistas sociais; a base de apoio nunca foi sustentada pelo poder econômico e sim pela nossa capacidade de consciência, reflexão, análise e raciocínio. Mantivemos nossa posição política de enfrentamento à burguesia e sua centralização de lucro e poder político e econômico. Também nunca fomos “de fato” sujeitos na direção “efetiva” das principais instituições governamentais, legislativas, partidárias ou sindicais brasileiras. Salvo raras exceções, nunca governamos o país com o olhar da negritude, além, do que aconteceu no Estado Democrático do Quilombo dos Palmares liderado por, Zumbi, no século XVI. Mesmo que uma série de insurreições histórias afro-indígenas também tenham estabelecido novos paradigmas para a democratização do Brasil. Para identificarmos a dimensão de nossas conquistas entre 1978 e 2014 e projetarmos ao futuro a nossa real capacidade, reflitamos sobre o que alcançamos e de que forma. Isto significa que mesmo em períodos de estagnação a nossa visão estratégica e programática permaneceu. Nossas resoluções, que porventura não foram superadas, poderão ser redimensionadas em nosso plano de ação dependendo do contexto primordial. As nossas vulnerabilidades acabam tornando-se experiências e aprendizados. No entanto, ainda somos fortes! ASPECTOS GERAIS Acima de tudo, estamos sob um ambiente social favorável com bases sociais conscientizadas e com posicionamento político em defesa da verdadeira democratização do país. De antemão, podemos constatar que a sociedade brasileira está mais informada sobre o racismo e seus malefícios. Nota-se que boa parte da população reage à discriminação racial independente da cor da pele. Mas foi exatamente porque o cidadão negro e a cidadã negra começaram a se conscientizar e denunciar o crime racial. Efeito objetivo das campanhas do movimento negro brasileiro. A materialização de avanço do contexto atual poderá apresentar uma nova plataforma de organização e transformação social, por meio de uma pauta Pan-Africanista que propõem uma visão de mundo, a partir da matriz civilizacional africana e das classes populares multiétnicas. Seus valores naturalmente irromperiam com o imperialismo cultural eurocêntrico. Seria o enfraquecimento da concepção colonialistas da oligárquica elite brasileira e seus devidos valores seculares institucionalizados a ferro e fogo. Temos que entender que o poder americano e europeu, ideologizado por seus acadêmicos pensadores e, seus vorazes líderes capitalistas, está cada vez mais vulnerável. A nossa plataforma é sustentada no histórico da luta pelos Direitos Humanos. Na base contemporânea está o movimento social negro, movimentos sociais organizados, cultura popular, religião de matriz africana, movimento quilombola, movimento indígena, movimento da juventude, movimento LGBT, movimento feminista, movimento dos trabalhadores(as) sem terra, movimento pela moradia, ativistas, intelectuais, e boa parcela da sociedade arregimentada por suas representações governamentais, parlamentares, institucionais públicas ou privadas, entre outras bases sociais democráticas e populares. Em todo o Brasil, boa parte da população de maioria negra e, muitos brancos, são adeptos às nossas heranças ancestrais ou optam pela convivência, simpatia ou militância. Existe um campo político cultural afro brasileiro integrado ao multiculturalismo e aos direitos sociais e humanos. Poderíamos comparar esse fenômeno ao auge do movimento sindical metalúrgico, entre o final da década de 70 e início da 80. Isto durante a ditadura militar e diante da voraz industrialização automotiva que explorava os(as) trabalhadores(as) brasileiros(as). Foi quando surgiu a CUT – Central Única dos Trabalhadores - e o PT – Partido dos Trabalhadores - que foram fundamentais para a democratização do país. Então, como trataremos o contexto atual, qual será o rumo do Movimento Negro Unificado? Com certeza precisaremos de aliados que taticamente estejam agrupados no campo autônomo da esquerda brasileira. Além disto, talvez, a nossa primeira tarefa seria a retomada da nossa liderança histórica no movimento negro brasileiro. Nos últimos 36 anos, o MNU teve um papel preponderante em pautar os três poderes do estado brasileiro; executivo, legislativo e judiciário, tanto quanto, a grande mídia e as instituições políticas. Durante muito tempo fomos referência para os estudos e produções acadêmicas. Enfrentamos conceitualmente o mito da democracia racial apontando o racismo como elemento fundamental para a manutenção do capitalismo. Esse XVII Congresso Nacional do Movimento Negro Unificado - MNU traz, em seu caráter; a necessidade de análise e reordenamento estratégico. No início da década de 90, criaram-se uma série de organizações e entidades não governamentais que fragmentaram a luta estratégica coletiva. O neoliberalismo determinou um “falso integracionismo”, criando estruturas meramente representativas. Muitas “lideranças”, de forma coadjuvante, deflagraram e participaram um mecanismo de articulação e representação institucional de extrema subjetividade, que de fato, não exercia efetividade ou capacidade de superação do racismo institucional. Podemos considerar que esse modelo permanece até hoje, antagonicamente à nossa visão enquanto de organização política. A criação da SEPPIR, em 2003, que perfaz 11 anos, demonstrou avanços consideráveis. No entanto, ainda incompatíveis às demandas estruturais, emblemáticas e crônicas relacionadas à exclusão histórica de mais da metade da população brasileira, como por exemplo, o avanço na certificação e titulação das terras quilombolas. TEORIA E PRÁXIS “Nada melhor que o tempo construir as respostas que precisamos”. O Movimento Negro Unificado teve, na década de 90, o seu principal período de produção intelectual idealizado pelos campos seguintes internos: - Raça e Classe, Raça e Território e Raça. Na primeira metade da década de 2.000, teve o seu principal período de conceituação de “Organização Política Autônoma”. Nesse período a nossa ação protagonizou articulações nacionais como: - O Comitê Afro do Brasil, para o Fórum Social Mundial, CONNEB, II Marcha Zumbi + 10, e mobilizações nos segmentos de comunidades tradicionais de matriz africana e quilombolas, principalmente. Em 2005 e 2009, concomitantemente, sofremos duas interrupções internas avassaladoras: - No XV Congresso Nacional do MNU, em Lauro de Freitas- BA, e no XVI Congresso Nacional do MNU, em Itapecerica da Serra-SP, em São Paulo. As duas gestões não conseguiram coordenar o nosso programa político. Resultado, estamos quase uma década sem direção política. A grande vulnerabilidade e estagnação interna promoveu uma reação de ativistas de vários estados. Em 2010, fundamos a ANLU – A Nossa Luta Unificada – Campo de Análise, Reflexão e Articulação Política do Movimento Negro Unificado - MNU. Há quatro anos esse campo vem articulando o reordenamento político de nossa organização a partir da base do MNU. O principal viés é o resgate da democracia interna é a retomada da construção de uma Organização Autônoma e Centralizada. O que a ANLU defende? “O fortalecimento da nossa produção filosófica, sociológica, política, cultural, religiosa e científica. Podendo assim, enfraquecer doutrinas e ideologias eurocêntricas institucionalizadas nas academias e estados capitalistas que construíram o desenvolvimento da ciência, os conceitos sobre a natureza humana e seus valores e crenças e, consequentemente, a promoção da divisão de classes desconsiderando as diferenças e experiências étnicas e civilizacionais africanas”. No âmbito nacional: - Participar sob o nosso ponto de vista da construção de proposições para a “Reforma Política”; - Incluir a dívida do escravismo na pauta da “Comissão da Verdade”; - Promover a integração do povo negro ao “Desenvolvimento Econômico”, principalmente, a melhores condições de “Trabalho e Renda”; - Discutir sobre os “Impactos da Industrialização Mundial ao Meio Ambiente e aos Problemas de Sustentabilidade e Desenvolvimento Humano”; - Discutir sobre a sociedade contemporânea e a “Cultura da Tecnologia Digital”; e sobre os “Monopólios Informacionais e de Massificação Social” pela iniciativa privada e pelos estados imperialistas e neocolonizadores; - Tratar da “Garantia dos Direitos e Titulação da Territorialidade de Matriz Africana” na religião, quilombos, e espaços de resistência negra; - Debater sobre as contradições relacionadas ao “Genocídio da Juventude Negra” e a ascensão de uma nova geração de “Cotistas Universitários”; - Promover ações de “Gênero e Raça” que contemple os direitos de igualdade às mulheres negras e contra o machismo, sexismo e a violência contra a mulher; - Combater o crescimento da “Desrespeito Religioso, Xenofobia, Neonazismo e Violência Contra a Diversidade Sexual”; - Construir um “Projeto Político do Ponto de Vista do Povo Negro”. Nisto, temos que nos colocar como uma organização democrática independente e de esquerda. De fato já somos, mesmo que, em muitas vezes não saibamos agir enquanto tal. Somos, às vezes, surrupiados por interesses de ascensão individual ou por grupos regionalizados. Ou, mesmo em expectativas “instantâneas” de integração ou participação, em correlações de representação da política local. Esses fatores estão relacionados à dubiedade intelectual propagada por segmentos ligados a correntes de outras organizações políticas ou partidárias, aquém, do Movimento Negro Unificado. A esquerda brasileira ainda não integrou a perspectiva de combater o racismo como questão fundamental de transformação social. O MNU sempre relacionou a divisão racial e econômica de classes ao enfrentamento à elite dominante da produção e concentração de renda. Talvez, o nosso grande desafio seja exatamente confirmar de forma determinada, o que pensamos e construímos politicamente em nossa existência. Algumas considerações que enriquecem o nosso debate foram estudadas por, Alex Callinicos; autor de Racismo e Capitalismo e tradutor de “Race and Class“ que expôs com excelência: “Os nacionalistas negros tendem a ver o racismo, pelo menos relativamente, como um fenômeno cujas origens, estrutura e dinâmica, embora estejam ligadas às do modo de produção capitalista, não podem ser reduzidas às mesmas. A libertação negra, concluem, só pode ser conquistada pelos próprios negros, organizados separadamente dos antirracistas brancos, mesmo considerando-os aliados. Os marxistas revolucionários, ao contrário, consideram o racismo um produto do capitalismo que serve para reproduzir esse sistema social dividindo a classe trabalhadora. Só pode ser abolido, portanto, através de uma revolução social. Seria uma conquista da classe trabalhadora unida. Negros e brancos lutariam juntos contra o seu explorador comum”. Se esse ponto de vista desconsidera que mesmo os brancos marxistas não estão no mesmo patamar de desigualdade social, racial e econômica em relação aos revolucionários negros, temos que fortalecer o nosso discurso ideológico e o formularmos a partir do nosso ponto de vista. O que de fato, é a linha do Movimento Negro Unificado? No mesmo trabalho, Callinicos, explora a análise do conflito teórico entre o Marxismo e o Nacionalismo Negro. Cita, Cedric Robinson, um acadêmico norte americano associado ao Institute of Race Relations de Londres, em seu Livro, Black Marxism, Marxismo Negro. A tese básica de Robson é que o marxismo é, na própria maneira em que seus conceitos são ordenados, uma ideologia eurocêntrica. Em sua base, quer dizer, em seu substrato epistemológico, o marxismo é uma construção ocidental – uma conceituação das questões humanas e do desenvolvimento histórico que emerge das experiências históricas dos povos europeus mediadas, por sua vez, pela sua civilização, suas ordens sociais e suas culturas. O marxismo, afirma Robinson, não é europeu apenas em suas origens, mas em seus pressupostos analíticos, suas perspectivas históricas, seus pontos de vista. Consequentemente, falhou em confrontar uma ideia recorrente na civilização ocidental, notadamente o racismo é, em particular, o modo pelo qual o racismo inevitavelmente permearia as estruturas sociais emergentes do capitalismo. Os intelectuais radicais negros do século XX – dos quais Robinson traça os trajetos de W.E.B Du Bois, C.L.R. James e Richard Wright – tiveram, portanto, que sair do marxismo e redescobrir uma tradição mais antiga, a resistência persistente, em uma contínua evolução, dos povos africanos à opressão, pois são estes, e não o proletariado europeu e seus aliados, que constituem a negação da sociedade capitalista. Segundo a tese Raça e Território (MNU): “ao articularmos Raça e Classe, em qualquer uma de suas versões, nos projetamos num espaço dentro de um campo político constituído.” Podemos ser até a versão herética desse espaço, algo como a esquerda mais à esquerda, mas sempre dentro do campo político institucional se constitui em cima de plataformas e parâmetros básicos. Nem a posição mais herética, dentro do campo político é capaz de colocar em questão essas plataformas. As instituições que se organizam a partir de um sistema de classificação marxista, mesmo em suas versões internacionalistas, não conseguem colocar em cheque a Nação como plataforma do campo político. A classe se organiza na Nação. Como propor articulações na esfera internacional? A luta regida sob o signo da organização em classes socioeconômicas pode pretender a abolição das fronteiras nacionais, mas se propõe em fazê-lo dentro da estrutura básica do campo político que é nacional. É o que parece na formulação de MARX de 1848: “ O proletariado de cada país deve, naturalmente, antes de mais nada, ajustar conta com a sua própria burguesia. Aqui, nunca se parte do pressuposto de que a relação antagônica com o grupo dominante se resolve na demarcação territorial dos grupos em luta”. Segundo a tese Raça e Classe (MNU), o capitalismo primitivo mercantilista acelerou a expansão de suas forças produtivas pela invasão e incorporação de novos territórios ao domínio da elite branca europeia, configurando o imperialismo moderno. O reflexo desta estratégia capitalista para a humanidade foi o saldo de mais de 4,7 milhões de indígenas mortos mais de 110 milhões de africanos sequestrados para instalar e alimentar o regime de escravidão nas Américas. Por outro lado, a escravidão direta foi o combustível da indústria burguesa alimentando suas máquinas e financiando o seu crédito. Sem a escravidão não teríamos indústria moderna. Foi a escravidão que deu às colônias o seu valor, foram as colônias que criaram o comércio mundial, o comércio mundial que é o motor da grande indústria. Assim, a escravidão é uma categoria econômica de grande importância para compreender o capitalismo atual, principalmente sobre o ponto de vista da questão racial onde em “Raça” temos que ter consciência negra e combater o racismo e, em “Classe”, combater a burguesia capitalista até a sua derrocada. Sendo assim, o povo negro deve também, se organizar enquanto classe trabalhadora em suas bases e nas organizações políticas que combatem o antagonismo social que molda o sistema capitalista moderno: a divisão racial no trabalho. Na tese Raça (MNU), evidencia-se o entendimento de “Raça, como processo de construção social”, isto é, a partir de relações sociais historicamente constituídas. Nesse sentido é a raça que especifica o lugar a ser ocupado nas estruturas sociais de poder e da riqueza na sociedade. É utilizada como fator de diferenciação, no sentido de garantir a permanência das desigualdades. Sem esse conceito, não há como justificar ou explicar a condição inferiorizada do negro, o confinamento dos indígenas e, ao mesmo tempo, elucidar os privilégios materiais e simbólicos do branco no mundo. Pois, pelo viés da inferioridade civilizacional da raça negra os europeus determinaram uma reclassificação de grupos e indivíduos de origem africana, além, da capacidade intelectual, moral e ética eurocêntrica. Nisto, a condição racial tem definido, previamente, o lugar a ser ocupado na produção e a distribuição espacial em qualquer território. Contudo, a consciência de raça, “consciência negra”, é que permite o verdadeiro entendimento do sujeito em entender a natureza das relações de classe em sociedades multirraciais, bem como, os desequilíbrios socioeconômicos que determinam a distribuição do poder político capitalista. Muito embora, esses campos políticos não existam mais e não exerçam articulação setorial na correlação de forças do Movimento Negro Unificado: “Muitas de nossas ações, principalmente, a partir da década de 2.000 tiveram influência direta dessas formulações teóricas”. O fato é que cada campo apresentou contradições e debilidades quanto a estruturação de seus próprios propósitos no interior do MNU. Na verdade, não houve uma base sólida de conscientização e responsabilidade estratégica para a implementação e condução dos respectivos projetos afins, sustentados nas devidas teses. O surgimento da ANLU – A Nossa Luta Unificada, em 2010, após o XVI Congresso Nacional do MNU, em Itapecerica da Serra, em 2009, retoma a necessidade de reflexão e análise da nossa caminhada teórica e prática. Inicialmente, podemos considerar que o principal fator de integração dos quadros de vanguarda neste campo político foi o “diálogo” pela garantia da democratização interna e a responsabilidade pela continuidade da existência do Movimento Negro Unificado. Em segundo lugar, o propósito comum em reordenar o caminho de construção para a consolidação política de uma Organização Autônoma de Esquerda. Diante de todos os limites possíveis de um país com dimensões continentais, podemos constatar que, hoje, a ANLU se organizou em mais de 12 estados e o Distrito Federal e integrou companheiros e companheiras de todas as correntes tradicionais do MNU. Teoricamente, a ANLU, avança gradualmente fazendo a releitura da nossa própria história e realinhando diretrizes programáticas. “Se estamos por nossa própria conta, como disse Steve Biko, é também por nossa conta que buscaremos nossas orientações teóricas e programáticas”. No entanto, temos que ter a sapiência e perspicácia em perceber que a contemporaneidade nos trouxe novos pesquisadores e pesquisadoras e intelectuais negros e negras. Nos últimos 30 anos, por exemplo, a produção bibliográfica brasileira sobre a temática racial cresceu de forma significativa, sem que fosse necessário, as elitizadas inserções acadêmicas às universidades europeias e americanas, para a homologação e certificação eurocêntrica aos nossos pensadores. Por outro lado, as bases quilombolas e de matriz africana nos trazem outros princípios civilizacionais evidenciando a sabedoria de nossos griôs: a oralidade. Ressaltamos a importância da tradução espiritual da orientação religiosa de nossas divindades e ancestrais. De concreto, podemos dizer que a ANLU teve papel fundamental na articulação e organização do XVII Congresso Nacional do Movimento Negro Unificado. Nisto, propomos a imediata retomada do processo de consolidação de uma Organização Política Autônoma, Democrática e de Esquerda, “interrompido”, durante as duas gestões anteriores. Se não refletirmos sobre esse período e permitirmos a utilização “cartorial” do MNU por indivíduos ou pequenos grupos que buscam status político de mera evidência social, não recolocaremos o MNU em seu devido caminho. “Para isto, necessitamos de uma consciência nacional e federativa de nossos quadros políticos, sem reducionismos aos interesses regionais”. Temos de pensar estrategicamente a nossa relação enquanto Organização Política com o Brasil e a sociedade brasileira. A priori, temos de desmistificar o fato de pensarmos que um dia fomos a principal organização política e, hoje, não somos. Nunca fomos os únicos, porém, a mais importante organização. Mesmo partir de 1978, quando éramos o movimento contemporâneo em relação às organizações já existentes, houve um grande processo de integração aos nossos quadros, mas posteriormente muitas dissidências. Concomitantemente, várias entidades continuaram existindo e outras tantas foram fundadas individualmente, ou algumas, não todas, foram aglutinadas a partir da década de 90 á CONEN. Podemos concluir que o fato de chegarmos até aqui, com credibilidade, é por conta de nossa concepção estratégica, nunca fomos braço de partidos ou de suas correntes internas, mesmo que muitos tentassem e, ainda tentem intervir e disputar a hegemonia no interior do MNU. Salvo as devidas proporções, durante a Guerra Fria, as organizações africanas sofreram esse tipo de pressão e influência principalmente dos EUA, URSS e China. Essa nossa essência, porém, não significa qualquer tipo de purismo ideológico. “Podemos constatar que entre tantas linhas teóricas temos o Pan Africanismo como nossa grande referência, mas, a influência Marxista- leninista é evidente”. Para termos, como exemplo, objetivo, a evidência dessas diferentes influências programáticas e ideológicas em nossa política interna, basta analisarmos o encadeamento conceitual entre as seguintes ações realizadas pelo MNU: “Movimento Negro Unificado-Organização Política, Projeto Político do Ponto de Vista do Povo Negro- CONNEB, Congresso de Negros e Negras do Brasil, Estado Nação-Reparação”. São linhas de construção Pan-Africanista-Marxista. Pois bem, o Pan-Africanismo teve grande influência na construção do continentalismo africano (lembrem do Brasil continental, obviamente desconsiderando a questão das diferenças étnicas e linguísticas, embora de fato somos descendentes dos diversos grupos étnicos africanos) como um instrumento político na tentativa transformar o continente numa grande federação. Esse processo formou duas organizações entre os países a OUA, Organização da Unidade Africana e sua sucessora a União Africana. Esse movimento debateu questões como o socialismo democrático, consciência negra, independência e nacionalismo, direitos humanos e anti-capitalismo. Nesse processo de descolonização foram realizados vários congressos e conferências num cenário brutal de guerras civis e possessão europeia. Fazer com que os próprios negros se entendessem enquanto povo foi naquele momento e, será ao futuro, o nosso principal desafio: construir um movimento político ideológico centrado na noção de raça e baseado no seu processo de construção sociológica e não biológica. O Pan-Africanismo enquanto movimento organizado surge fora da África, ganhando força entre os negros da diáspora que eram sujeitos nas colônias americanas, ainda no século XIX. Corria o ano de 1868, quando numa aldeia de Massachusetts, Estados Unidos, nascia “livre” W.E Burghardt Du Bois, que seria, mais tarde, o “Pai do Pan-Africanismo”. Du Bois, no ano de 1903, em seu livro “The Soul of the Black Folk”, respondeu com um “não” categórico à seguinte pergunta: Será possível, será provável, que possam nove milhões de homens realizar, no plano econômico, verdadeiros progressos, quando privados de direitos políticos, quando reduzidos à uma casta servil, e quando não se lhes concede a mínima oportunidade de desenvolver intelectualmente seus jovens bem dotados? Du Bois referia-se à situação dos negros nos Estados Unidos, onde estavam impossibilitados de integrarem-se livres e iguais na vida americana. Foi ele o iniciador dos primeiros congressos pan-africanos. Dizia, em 1920, ser evidente que “em “face do desenvolvimento da África Central, o Egito deve ser livre e independente, no grande caminho que conduz à uma Índia livre e independente, ao passo que o Marrocos, a Argélia, a Tunísia e Trípoli devem religar-se à Europa, modernizando-se na Independência”. Outro líder importante na história do pan-africanismo foi Jean Price-Mars. Nascido em 1876, no Haiti, publicou na França, em 1928, “Assim Falou o Tio...”, ensaio etnográfico de grande valor. “Houve” – relatava- “em dado momento, no continente africano, centros de civilização negra dos quais não somente se encontraram vestígios, mas cujo brilho se irradiou além da estepe e do deserto”. Precisamente quando evoca o 80º aniversário de Price-Mars, frisou Léopold Senghor: “Por isso, há de ser o 15 de outubro de1956, o octogésimo aniversário da negritude”. Essa negritude que significara a afirmação da autêntica cultura negra, despojada de todas as suas eventuais assimilações ocidentais. O I Congresso Pan-Africano realizou-se em Paris, em 1919. Após o armistício, Du Bois reclamava, de acordo com os princípios proclamados pelo presidente americano Woodrrow Wilson, o direito dos negros de disporem de si mesmos. Para isso contava, entre outras coisas, com apoio do primeiro deputado do Senegal, Blaise Diagne, que ocupou o Parlamento francês durante vários anos consecutivos. Mas era com certo temor que os americanos viam o Congresso: só em 1919, 83 negros foram linchados, 11 dos quais queimados vivos...e Paris estava cheio de correspondentes de jornais do mundo inteiro. Por isso os EUA recusavam-se a dar passaporte aos delegados congressistas. Às diversas sessões do Congresso, compareceram 57 delegados negros, vindos das ilhas britânicas, diversas colônias francesas e britânicas, dos Estados Unidos e das Antilhas. No final dos trabalhos foi entregue à Liga das Nações uma petição em que se requeria ser os antigos territórios coloniais alemães confiados a uma gestão internacional. O II Congresso Pan-Africano aconteceu nos dias, 28 e 29 de agosto de 1921. Instalou-se no Centro Hall de Londres, em presença de 130 delegados, 41 dos quais provenientes de territórios africanos e 35 dos Estados Unidos. Numa “ Declaração ao Mundo”, redigida por Du Bois, reclama-se o reconhecimento, para os negros, de direitos iguais aos dos brancos. III Congresso – Londres (1923): Só se conseguiu obter uma declaração como o anterior numa segunda sessão em Lisboa, onde praticamente representantes agrupados no seio da Liga Africana (núcleo dinâmico de intelectuais negros) atingiram resultados pouco mais expressivos. O objetivo de Du Bois era obter um abrandamento dos trabalhos forçados em Angola, e nas ilhas de São Tomé e Príncipe. Garantias formais foram dadas por personalidades portuguesas, que, até hoje ou até a independência dessas colônias, jamais as cumpriram. IV Congresso- Nova Iorque (1927): Estiveram presentes 208 delegados de uma dezena de países. Começa a tomar corpo a doutrina pan-africana. Reivindicaram para os africanos o direito de fazerem ouvir sua voz junto aos governos que “lhes dirigiam os negócios”. Proclamaram o direito dos negros à terra africana e seus recursos; o direito a uma justiça adaptada às condições locais e que incluísse juízes nativos. Reclamavam também a extensão do ensino primário gratuito e o desenvolvimento do ensino técnico; a participação dos africanos na valorização da África; a associação capital-trabalho; o fim dos escravos e do comércio do álcool. O V Congresso Pan-Africano foi realizado em março de 1945 e teve sua sede em Manchester, Inglaterra. Seu organizador: DU Bois. As sessões, dirigidas pelos líderes Kwame NKrumah e George Pandmore, T.R. Makonen (da Guiana Britânica); Peter Abrahams, o Dr. Pierre Milliard (guianês) e Jmo Kenyatta. Foram denunciadas as divisões territoriais da África, a exploração econômica destinada a desencorajar a industrialização, e a instalação de colonos nas terras cultiváveis. Os delegados reclamaram a luta contra o analfabetismo e a subnutrição, o reconhecimento do direito sindical e a criação de cooperativas. Também emitiram resoluções exigindo a independência da Argélia, Tunísia e Marrocos. E afirmaram que a única solução para a paz residia na completa e absoluta independência para os povos do Oeste africano. Durante esse Congresso, por iniciativa de NKrumah, formou-se um comitê regional denominado: West African National Secretariat. O VI Congresso teve lugar na cidade de Cumasi, Gana, de 4 a 6 de dezembro de 1953. NKrumah já estava no poder, em Gana. Essa conferência teve como um de seus objetivos a criação do National Congress of West Africa, com existência formal a partir de 1954. Tinha como função promover a unidade da África Ocidental, principalmente pela organização de conferências periódicas nos territórios coloniais britânicos e franceses. É bom lembrar que, no final da segunda Guerra Mundial, existiam apenas 4 estados “independentes” no continente africano: Libéria, Etiópia, Egito e a União Sul Africana. Na prática, todo o território era colonial, pois esses países estavam sob influência política, econômica e militar da Inglaterra (Etiópia, Egito e a União Sul Africana) e dos Estados Unidos (Libéria). Após a guerra, outras fronteiras foram traçadas em decorrência do recuo da dominação colonial, permitindo o aparecimento de novos Estados. Não se processou, contudo, a extinção do colonialismo. Em muitos países nascia o colonialismo econômico. É bom lembrar como a África estava dividida politicamente em 1940. Colônias britânicas: União Sul Africana; Sudoeste Africano(Namíbia); Bechuan(Botsuana); Rodésia do Sul(Rodésia-Zimbawel); Rodésia do Norte (Zambia), Tanganica(Tanzânia); Uganda; Quênia; Somália Britânica ( ao norte do país); Nigéria; Costa do Ouro(Gana) e o Sudão Anglo-Egípcio. Colônias francesas: Ilha de Madagáscar (Rep. Malgaxe); Ilhas Comoras; África Equatorial Francesa (República Popular do Congo, Gabão, Camarões, Rep. Centro Africana, Chade); África Ocidental Francesa(Nigéria, Benim, Togo, Alto Volta, Costa do Marfim, Mali, Mauritânia, Guiné (Conacri), Gâmbia, Senegal); Argélia; Marrocos e a Ilha Reunion( ainda colônia francesa). Colônia belga: Congo (Zaire). Colônias italianas: Somália Italianas; Abissínia (Etiópia); Eritréia (hoje, baixo domínio etíope) e Líbia. Colônias portuguesas: Moçambique; Angola, Guiné Portuguesa; Cabo Verde; São Tomé e Príncipe. Colônias espanholas: Guiné Equatorial; Rio de Ouro (Saara Ocidental, território hoje disputado pela Mauritânia e Marrocos; o povo saaraui luta contra esses países através da Frente Polisário, pregando pela independência de seu território) e as ilhas Canárias (ainda colônia espanhola que luta contra os independentes do MPAIAC, Movimento pela Autodeterminação e Independência do Arquipélago das Canárias). Bem, somente relendo essa construção em larga escala histórica da política pan-africanista, é que podemos dimensionar o quanto foi necessário para a Independência dos Países Africanos. Mesmo assim, hoje, a maioria dos países continuam dependentes e sob grande influência de suas ex-colônias. Entender esse processo é compreender a complexidade da nossa própria luta enquanto ativistas do Movimento Negro Unificado - MNU. Frantz Fanon, em seu olhar sobre a elite europeia na África reflete: “O negro é declarado impermeável á ética, a ausência de valores como também negação de valores, até mesmo inimigo dos valores culturais europeu. O imigrante faz a História. Sua vida é uma epopeia, uma odisseia. Ele é o começo absoluto. E porque se refere constantemente a história do seu país, indica de modo claro que ele aqui é o prolongamento desse país. A história que o imigrante escreve não é, portanto, do país que o abraçou, mas a história da sua nação no país que ele veio explorar’. 36 ANOS DE LUTA! Algumas reflexões e referências cronológicas relacionadas, entre outras, à nossa caminhada... 1. “As únicas pessoas que realmente mudaram a história foram as que mudaram o pensamento dos homens a respeito de si mesmos”. Malcolm X. Em 1979 – O MNU fez um ano de fundação, passava pelos 90 anos de Abolição da Escravatura, que perfaziam em 1978, em plena conjuntura de inúmeras manifestações e protestos contra a Ditadura Militar. Abdias do Nascimento tinha lançado o livro Genocídio do Negro Brasileiro, que denunciava todo o mecanismo sociopolítico de discriminação e exclusão racial. Formação do Núcleo Negro Socialista, em 1977, Organização Negra de Esquerda, para a libertação e organização do negro no Brasil, influenciou através de seus ativistas a nossa posição política enquanto iniciante organização autônoma de ESQUERDA NO BRASIL, legado, ao qual, nunca traímos em nossa história de lutas. Aprovada a Lei federal, 6.767/79, que reestabeleceu o pluripartidarismo iniciando a abertura política. O presidente Militar, Ernesto Geisel, extingue o AI-5, Ato Constitucional que tinha fechado o Congresso Nacional e suspendido as garantias constitucionais de cidadania. Conferência Geral da ONU, 1978, “Declaração sobre Raça e os Preconceitos Raciais”. 2. “Um grande número de universidades americanas está registrando incêndios e violência racial, muitas instituições resistem à inserção do currículo multicultural”. W.E.B.DU BOIS”. 1980. - Fundação do CEDENPA, Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará, criando-se uma referência de resistência negra na região amazônica do país. - Nasce o PT. Independência do Zimbábue. 3. “Frantz Fanon, foi um intelectual popular porque falava da própria luta como participante do processo revolucionário”. 1981 - Atentado Rio- Centro. - Carybé publica: Deuses Africanos no Candomblé da Bahia. - Anwar Sadat, presidente do Egito é assassinado. - Ronald Reagan, é eleito presidente dos EUA.-Tentativa de Golpe na Espanha pelo Tenente Coronel Antônio Tejero. - Morre o mestre de capoeira “Pastinha”. - Morre o cantor Bob Marley. 4. “Quilombismo”: dedico este livro aos jovens negros do Brasil e do mundo, continuidade da luta por um tempo de justiça, liberdade e igualdade, onde os crimes de racismo não possam jamais se repetir. Abdias do Nascimento. 1982 - II Congresso de Cultura Negra das Américas. Coordenado por Dulce Pereira e Abdias do Nascimento 5. “As mulheres negras foram fundamentais em todas as organizações de Direitos Civis que existiram e existirão”. Angela Davis. 1983 - Fundação dos Agentes de Pastorais Negros do Brasil, SP. I Encontro de Mulheres de Favelas e Periferia, RJ, que fortaleceu a estimulou a participação das mulheres na política brasileira e na criação de organizações e conselhos específicos. 6. “O indivíduo, a raça, a nação, haverá de enfrentar uma vez na vida o problema de decidir sua futura trajetória. É chegada a hora, o povo negro deve definir-se sobre o interesse de sua própria liberdade”. Marcus Garvey – Jamaica. 1984. - Desmond Tutu recebe o prêmio Nobel da Paz. - Fundação do Grupo de Homossexuais Negros, Adê Dudu, na BA . - Campanha “Diretas Já”. - Criação do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de São Paulo. - Derrota da emenda das eleições diretas. 7. “Para participar da Revolução não basta escrever uma canção revolucionária, se lutarmos conjuntamente, as canções surgirão”. Sèkou Touré. 1985. - Lei Caó, 7437/85, classifica o racismo como crime inafiançável, punível de prisão. -Lélia Gonzáles e Benedita da Silva integram o Conselho Nacional da Mulher até 1989. - Colégio eleitoral elege Tancredo Neves à presidente da República, falece, e assume José Sarney. - Fim da Ditadura Militar. 8. “Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos haverá guerra”. Bob Marley. 1986. - Clóvis Moura Lança “ Os Quilombos e a Rebelião Negra”. - Convenção Nacional do Negro e a Constituinte, Agosto, em Brasília. - Na URSS, Mikhail Gorbatchov propõe a abertura política e econômica ( “Glasnost” e a “Perestroika”). - Na economia do Brasil surge o congelamento de preços, salários e câmbio no Plano Cruzado. 9. “O sistema pode prender um revolucionário, mas não poderá colocar a revolução na prisão”. Panteras Negras. 1987. - Fundação do INTECAB, Instituto Nacional de Tradição e Cultura Afro Brasileira, SP. - É instalada a Assembleia Nacional Constituinte. - No Brasil, o Plano Bresser congela aluguéis e salários. 10. “ A luta pela valorização do emprego doméstico se mescla com a militância pela igualdade racial e feminismo. Não há que se questionar que a categoria é composta em sua maioria de mulheres negras e pobres. Laudelina de Campos Melo. 1988. -Centenário da Abolição. - Assembleia Nacional Constituinte. - Artigo 68 ADCT , reconheceu a propriedade definitiva ás terras remanescentes de quilombos. - Marcha contra a Falsa Abolição, reuniu milhares de pessoas no Rio de Janeiro enfrentando a repressão dos militares. - PC do B, Fundação da UNEGRO, União dos Negros Pela Igualdade. - I Encontro Nacional de Mulheres Negras no RJ. Fundação do Geledés, em SP. - Foi Criada a Fundação Cultural Palmares pelo Governo Federal. - No VIII Encontro de Negros e Negras do Norte e Nordeste, organizado pelo MNU da região, foram definidas diretrizes educacionais que balizaram a criação da Lei 10.639 11. “Mãe Luzia foi considerada a primeira doutora do Amapá, era descendente do povo Bantu, na cidade de Macapá, foi escravizada do nascimento até a abolição, seus conhecimentos sobre partos foram passados por seus ancestrais a ponto de ser reconhecida pelo poder público”. Francisca Luzia da Silva. 1989. - Fundação do CEAP, RJ, Centro de Articulação de Populações Marginalizadas. - X Encontro de Negros e Negras do Norte/Nordeste consolidando uma série de encontros regionais durante a década de 80. -Primeira eleição presidencial direta desde 1961. - Fernando Collor é eleito. - A queda do Muro de Berlim. 12. “ Nessa cidade todo mundo é d´oxum, homem, menino, menina mulher”. Gerônimo. 1990. - Libertação de Nelson Mandela. Plano Collor, confisco das cadernetas de poupança e congelamento dos depósitos bancários. - Reunificação da Alemanha. - Fim da década perdida na América Latina. - IX Congresso Nacional do MNU. 13. “ Reaja à Violência Racial !” 1991.- I Encontro de Mulheres Negras do MNU em Recife-PE. - Realização do ENEN – 1º Encontro Nacional de Entidades Negras. - Fundação da CONEN – Coordenação Nacional das Entidades Negras. - - Fim da URSS e da Guerra Fria. - Congresso Extraordinário do MNU, RJ. - IX Congresso Nacional do MNU, RJ. 14. “ Uns vão uns tão uns são uns dão uns não uns hão de, uns pés uns mãos uns cabeça uns só coração”. Caetano Veloso. 1992. - I Encontro de Mulheres Afro Latino Americanas e Afro Caribenha, realizado na República Dominicana. - Fundação da Organização CRIOLA –RJ. - Movimentos da Juventude de classe média branca “Caras Pintadas”. - Impeachment de Collor, Itamar Franco assume. - Massacre do Carandiru, 111 detentos mortos. - Fundação do PCC, Primeiro Comando da Capital. 15. “Minha vida é andar por esse país pra ver se um dia me sinto feliz”. Luiz Gonzaga. 1993. - Fundação do Educafro, Educação e Cidadania de Afro Descendentes e Carentes, RJ. - I SENUN, Seminário Nacional de Negros Universitários na Bahia. - X Congresso Nacional do MNU, Goiânia. 16. “Quando eu tiver bastante pão para meus filhos, para minha amada, pros meus amigos e pros meus vizinhos, quando eu tiver livros para ler, então eu comprarei uma gravata colorida, larga, bonita”. Solano Trindade. 1994. - Morre Lélia Gonzales, fundadora do MNU. - Fundação da Comissão Nacional de Combate à Discriminação Racial da CUT. - Fernando Henrique Cardoso é eleito presidente da república. - Nelson Mandela torna-se presidente da África do Sul. - Genocídio em Ruanda, Hutus X Tutsis. 17. “ Treze de maio, treze de maio traição, liberdade sem asas e fome sem pão, liberdade de asas quebradas..” Oliveira Silveira, Poeta Gaúcho, idealizador do 20 de Novembro. 1995. - 300 anos da Morte de Zumbi dos Palmares. - Marcha Zumbi Contra o Racismo Pela Cidadania e a Vida, com a participação de milhares de pessoas em Brasília. - Primeira titulação de uma Comunidade Remanescente de Quilombos em Oriximiná –PA. - I Encontro Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas, em Brasília-DF. - I Congresso Continental dos Povos Negros da Américas, organizado pela CONEN e Movimento Continental de Resistência Indígena, Negra e Popular. - Cuba aprova investimentos financeiros externos no país. - XI Congresso Nacional do MNU, RJ. 18. “A noite não adormece nos olhos das mulheres, a lua fêmea, semelhança nossa, em vigília atenta vigia a nossa memória”. Conceição Evaristo. 1996. - Fundação da Coordenação Nacional de Quilombos (CONAQ). - Fim do Apartheid. - Massacre de Eldorado dos Carajás, membros do MST são mortos no Pará. 19. “Mano não Morra não Mate”. Milton Barbosa. Miltão. 1997. -Fundação da Federação Nacional das Empregadas Domésticas, FENATRAB. - O índio pataxó, Galdino Jesus dos Santos, é assassinado, em Brasília, por 5 estudantes. - MST faz passeada de 50 mil pessoas contra o Neoliberalismo, em Brasília. 20. “ Amigo é coisa pra se guardar embaixo de sete chaves”. Milton Nascimento. 1998. - Começa a II Guerra do Congo envolvendo 7 nações africanas, dura até 2002. - XII Congresso Nacional do MNU, Salvador. - Fernando Henrique Cardozo é reeleito. - FMI empresta 41 bilhões ao Brasil, em função da crise na Rússia. 21. “ Um sorriso negro um abraço negro traz...felicidade, negro sem emprego fica sem sossego negro é a raiz da liberdade”. Canta Dona Ivone Lara. 1999. - Tribunal Internacional da África, Países Africanos contra os planos de ajuste econômico do FMI. -Encontro Nacional do MNU em Ibirité, Minas Gerais. - Marcha dos 100, em Brasília, “Fora FHC”. - A União europeia cria o euro. 22. “ Anda com fé eu vou que a fé não costuma falhar”. Gilberto Gil. 2000. Enfraquecimento do neoliberalismo. - Fundação do Fórum Nacional de Mulheres Negras e da Articulação de Organizações das Mulheres Negras Brasileiras. - Brasil Outros 500: Movimento Nacional de Resistência Indígena Negra e Popular, acontecem mobilizações em todo o país desmascarando as comemorações oficiais do governo brasileiro em Porto Seguro, na Bahia. - XIII Congresso Nacional do MNU, RJ. - Ciência mapeia o DNA humano. - George W. Bush é eleito presidente dos EUA. 23. “Eu acredito é na rapaziada que segue em frente e segura o rojão, eu ponho fé é na fé da moçada que não foge da fera e enfrenta o leão, eu vou a luta com essa juventude, que não corre da raia a troco de nada, vou no bloco dessa mocidade, que não tá na saudade e constrói a manhã desejada”. Gonzaguinha. 2001. - 11 de setembro ataques ao World Trade Center e o Pentágono, em Nova York. - Invasão americana no oriente médio, “Guerra contra o Terror”. - III Conferência Mundial Contra o Racismo a Discriminação a Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, em Durban, na África do Sul. - I Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. 24. “Eu gosto de olhos que sorriem de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram”. Machado de Assis. 2002. - UERJ institui as leis, 3.524/2000 e 3.708/2001, reserva de cotas para 50% de candidatos da rede pública e 40% que se autodeclaram afrodescendentes. - II Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. - Articulação pelo MNU do Comitê Afro do Brasil (CAN) que reuniu as principais organizações do Movimento Negro Brasileiro e teve como pauta principal: Reparação. - Tribunal dos Povos Africanos e Indígenas, em Porto Alegre. - Quilombo Milton Santos e Lélia Gonzáles. -Lula é eleito presidente da república. - XIII Congresso Nacional do MNU, Rio de Janeiro. - XVI Congresso Nacional do MNU, RS. -Seminário Nacional de Mulheres do MNU, RJ. 25. “Oxumaré, relativo à mobilidade e atividade, afugentador da chuva e representa a riqueza”. 2003 - Foi aprovada a Lei nº 10.639 que alterou a LDB 9.394/96 que inclui no currículo oficial da rede de ensino público e privado a disciplina de História e Cultura Afro Brasileira. - III Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. - É fundado o Comitê Internacional de Reparação. Criação da SEPPIR. III Seminário Nacional de Educadores e Educadoras do MNU. RJ. - Seminário Nacional de Sindicalistas, RJ. II Seminário Nacional de Organização. Audiência do MNU com a Ministra, Matilde Ribeiro, reiterando nossa posição de autonomia e apoiando a gestão da SEPPIR, a qual, também fomos idealizadores. 26. “Rosto com a imensidão do mar sem pingos de desespero. Negros não mais fujões, libertam seu nome recém - nascido como árvore brotando flores, flores grávidas de frutos...” Alzira Rufino. 2004 - Ocupação do Haiti por tropas da ONU com participação do Brasil. - Queda de Saddam Hussein. - Fortalecimento da “centro esquerda” na américa latina e enfraquecimento da ALCA. - Bush é reeleito presidente dos EUA. Ano Internacional para Celebrar a Luta contra a Escravidão e sua Abolição. - Foi criado o FACEBOOK. - Morre Leonel Brizola. 27. “Logunedê, elegância, beleza e sedução, assume a forma masculina e feminina...” 2005 - Marcha Zumbi + 10; II Marcha contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida. - Duas Marchas são realizadas, uma no dia 16/09 capitaneadas por algumas ONGS e com fraquíssima participação. E a outra, Zumbi + 10, pelas principais organizações do Movimento Negro Brasileiro que reuniu milhares de pessoas. I CONAPPIR, Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. - Fórum Social Mundial, RS. Santiago mais 5. 28. “Refletiu a luz divina com todo seu esplendor é do Reino de Oxalá onde há paz e amor”. Hino da Umbanda. 2006 - Reeleição de Lula. - XV Congresso Nacional do MNU, Lauro de Freitas, BA. - Seminário Nacional do MNU para Organização do CONNEB, RJ. - Sancionada a Lei Maria da Penha (11.340). “Um dia sem Imigrantes” 1º de Maio, imigrantes latino-americanos param os EUA. Reeleição de Hugo Chaves na Venezuela. - Saddam Hussein é enforcado. 29. “Salvador é um Porto Seguro, seguro de tanta beleza..” Morais Moreira. 2007. - I ENJUNE, Encontro Nacional da Juventude Negra. - Maior recessão americana após a segunda guerra mundial. - Cristina Kirchner assume a presidência a Argentina. 30. “Jesus Cristo era negro ?!?!?” 2008 - Fim do governo de Fidel Castro em Cuba. - Crise Econômica Mundial, bancarrota no Lehman Brother, bolha imobiliária. - 120 Anos da Abolição da Escravatura. 31. “Quando não há inimigos internos, os inimigos externos não podem nos ferir”. Provérbio Africano. 2009 - II CONAPPIR. - Barak Obama é eleito o primeiro presidente negro dos EUA. I Reunião Nacional de articulação da ANLU, em Brasília. XVI Congresso Nacional do MNU, em SP. 32. “A mais potente arma nas mãos do opressor é a mente do oprimido”. Steve Biko. 2010 - Dilma é eleita. Em Julho/10 foi aprovado o Estatuto da Igualdade Racial, lei 12.288. - Crise Econômica na União Europeia. - Primavera Árabe no norte da África. I Encontro Nacional da ANLU – A Nossa Luta Unificada, sede do MST, SP. Congresso Nacional de Negros e Negras do Brasil, CONNEB, em Porto Alegre (resolução do XIV Congresso do MNU). 33. “Não basta que seja justa e pura a nossa causa. É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós”. Agostinho Neto. 2011 - Morte de Osama Bin Laden e Muammar al Gaddafi. ONU aprova Ano Internacional dos Afrodescendentes. “Primavera Árabe”, manifestações populares contra ditaduras em vários países árabes. 34. “Me organizando, posso desorganizar”. Chico Science. 2012 -Reeleição de Barack Obama. Rio + 20, Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável. Senado Paraguaio afasta o presidente Lugo. Julgamento do Mensalão. 35. “Temos uma ideologia poderosa, capaz de prender a imaginação das massas. Nosso dever é passar essa ideologia, totalmente, para elas’. Nelson Mandela. 2013 - Morre Hugo Chaves e Nelson Mandela. - Manifestações Sociais e Violência em todo o Brasil. 36. “Cada setor do Estado e da sociedade deve assumir o seu papel no combate ao racismo.” Luiza Bairros - entrevista ao programa Bom dia, Ministra. 2014 - Copa do Mundo no Brasil. - Guerra na Ucrânia. Guerra Israel - Palestina. XVII Congresso Nacional do MNU, Salvador-BA. Construção para a I Marcha Nacional das Mulheres Negras, em 2015, Contra o Racismo a Violência e Pelo Bem Viver! - Marcha Contra o Genocídio do Povo Negro, 22 de agosto. – Eleições presidenciais. Texto elaborado por Emir da Silva, Ilma Fátima de Jesus e Adomair O. Ogunbiyi Colaboração: Carmem Maia ANLU- Coordenação Nacional. Marcelo Dias – RJ Raimundo Bujão – BA Ângela Gomes – MG Ilma Fátima de Jesus – MA Adeildo Araújo Leite - PE Emir da Silva – RS Sônia Santos - SP Porto Alegre, 13 de Agosto de 2014. Referências: - As Almas da Gente Negra W.E.B Du Bois. Tradução: Heloisa Toller Gomes. - Rebeliões da Senzala. Clóvis Moura. - Sociologia do Negro Brasileiro. Clóvis Moura. - África Contemporânea. Ciência e Letras/ FAPA-RS. - A Integração do Negro na Sociedade de Classes. Florestan Fernandes. - Parte de Minha Vida. Winnie Mandela. Organização Anne Benjamin - Sociedade de Classes e Subdesenvolvimento. Florestan Fernandes - Auto Biografia de Malcolm X, Alex Haley. - O Lugar da África. José Flávio Sombra Saraiva. - África Arde – Lutas dos Povos Africanos pela Liberdade. Carlos Comitini. - O Quilombismo. Abdias do Nascimento. - A discriminação do Negro no Livro Didático. Ana Célia da Silva. - Jornal Quilombo – Abdias do Nascimento. - Os grandes Líderes do Século XX. Mandela. Thomas Butson. - 10 anos de Luta Contra o Racismo – Movimento Negro Unificado. - Caderno de Teses do XIII – Congresso Nacional do MNU. - Retrospectiva MNU-RS 1992-2002. - Racismo e Capitalismo. Alex Callinicos. - Políticas de Treinamento e Educação nos EUA: James J. Heckman, Rebecca l. Roseleus, and Jeffrey A. Smith. - Projeto Político: Raça e Território- José Carlos dos Anjos. - Ações Afirmativas e a População Afrodescendente. Haroldo Antônio da Silva. - Organização e Centralidade – Edmilton Cerqueira. - Organização Política – Yedo Ferreira. - Relatório Final do Seminário de Organização do CONNEB – Julho 2007.

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Plenária ANLU, XVIII Congresso Nacional do MNU. 2017.

XVIII CONGRESSO NACIONAL DO MOVIMENTO NEGRO UNIFICCADO.
CONSTRIBUIÇÃO DA ANLU – A NOSSA LUTA UNIFICADA.
CAMPO DE REFLEXÃO, ANÁLISE E ARTICULAÇÃO POLÍTICA DO MNU – MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO.
QUEM SOMOS?
Um campo do MNU que realizou seu primeiro encontro em 2009,  São Paulo, entre lideranças das antigas correntes   internas de nossa organização que mais atuaram e formularam conceitos e políticas durante a década de 90; Raça e Classe, Raça e Território e Raça, principalmente. 
A ANLU foi fundada em 2010, tem sete anos de existência, sua criação oficial teve como marco um manifesto federativo contra a violência moral às mulheres do MNU deflagrada por um homem que integrou a direção nacional a partir do XVI Congresso Nacional em Itapecerica da Serra, São Paulo.
Nossos princípios são fundamentados no pan-africanismo seus teóricos e na luta nacional e internacional de libertação do povo negro em suas resistências, insurreições e organizações contra a descolonização, hegemonia das elites brancas e concentração de renda pelos monopólios transnacionais sustentados pelo mercado liberal.
Nosso objetivo é articular e fortalecer mecanismos de organização política no campo da esquerda negra para a conquista do poder político do povo negro e aliados do campo democrático e popular em contraponto e oposição aos grupos de interesses financistas que interagem na sociedade e dominam as instituições privadas e sociais. 
Nossa meta foi reorganizar o MNU após meia década de estagnação, 2009-2014, e recolocar nossa organização no cenário primordial entre as maiores organizações da história do movimento negro do Brasil. 
Organizamos o XVII Congresso Nacional em Salvador, em 2014, e agora, três anos após em meio à uma das maiores crises políticas e econômicas da história do país mantivemos a resistência política evidenciando o MNU como a principal organização política de esquerda negra em “atividades cotidianas” de forma autônoma, independente e sem qualquer tipo de alianças com a burguesia econômica ou instituições políticas tradicionais conversadoras do sistema político excludente que vigora no Brasil. 
Somos um coletivo com integrantes de vários estados federativos, inclusive com posições políticas diferenciadas, mas que se articularam contra o exacerbado individualismo e violência moral no interior do MNU que em vários períodos levaram nossa organização à altas vulnerabilidades e desorganização política.
Nosso propósito é construir um campo político essencialmente negro, democrático, LGBT e feminista que contemple as diferenças comportamentais e opções de crenças; e que propicie a articulação estratégica de resoluções e diretrizes para políticas públicas para crianças, adolescentes, juventude, povos tradicionais, comunidades quilombolas e grupos afins integrados no povo negro brasileiro que buscam direitos sociais, civis, políticos e econômicos.
Não somos braços de partidos ou correntes de qualquer instituição branca vigente no país.
Nossa tese teoria apresentada no XVII Congresso, em 2014, está disponível nas redes sociais.
BALANÇO POLÍTICO DE GESTÃO.
De 27 à 29 de Outubro em Brasília estamos realizando um dos maiores congressos de nossa história, esse é o marco final do êxito em nossa gestão.
Ninguém se interessaria por um MNU quebrado ou com falta de credibilidade social.
De março de 2017 até agora mobilizamos em torno de 1.500 lideranças em todo o Brasil.
Nos preocupamos em qualificar a política, não lotar delegações. 
Realizamos vários encontros que encaminharam várias diretrizes e resoluções; Convergência Negra, em Salvador, Sindicalistas e Juventude, Rio de Janeiro, LGBT, Recife, Mulheres, BA e encontros pré-congressuais em todo o pais. 
No início de nossa gestão em 2014 implementamos a campanha pelo Feriado Nacional em 20 de novembro. 
Publicamos um grande volume de publicidades alternativas nas redes sociais.
 Em Porto Alegre em dois anos consecutivos reunidos 8 mil pessoas e apresentamos projeto de lei na gestão do vereador, Antônio Matos do MNU-RS. 
Também houve mobilização e apresentação de projetos em Juiz de Fora-MG.
 O Lançamento da campanha foi em novembro de 2014, 3 mil pessoas, na Terça Negra em Recife, com transmissão pela TV Brasil e pelas redes sociais para vários países do mundo. 
Na área da comunicação produzimos sete programas de veiculação nacional e internacional disponíveis nas redes sociais; Programa Nação, único totalmente com conteúdo afro-brasileiro, em co-produção entre TVE-RS e TV Brasil:  realizamos, programas sobre o Congresso em Salvador, sobre a Terça Negra e Campanha do 20, em Recife, sobre a Convergência Negra no Fórum Social Mundial em 2016, em Porto Alegre. 
O Programa Caminhos das Reportagem da TVE fez a cobertura nacional do lançamento da campanha sobre o feriado do 20 de novembro, no Campo da Tuca, em Porto Alegre em 2015.
Essas veiculações evidenciaram o Movimento Negro Unificado para milhares de pessoas. Na gestão da ANLU, 2014-2017, foi fundada a Convergência Negra composta por mais de 15 organizações do movimento negro brasileiro.
Isto, demonstrou credibilidade política dos nossos dirigentes em relação à confiança política de outras organizações.
A Convergência apesar de ser   um processo incipiente e incluso é a terceira experiência de frente estratégica articulada por nossos quadros desde o início dos anos 2000.
Em 2003, no Fórum Social Mundial fundamos o CAB, Comitê Afro do Brasil, essa integração de 13 organizações nacionais teve papel fundamental na criação do Comitê Internacional de Reparação, com 16 países africanos, bem como a criação da SEPPIR- Secretaria Especial Para Promoção da Igualdade Racial.
Entre , 2008-2010, articulamos o CONNEB, Congresso Nacional de Negras e Negros do Brasil com o propósito de discutir desenvolvimento sócio, político e econômico do Brasil do ponto de vista do povo negro. 
E, agora a Convergência Negra que essencialmente é como uma Coalização de Defesa e Frente Negra contra o estado de exceção do governo Temer e pela democratização.
Vejam que os princípios que norteiam nossos quadros são de fortalecer cotidianamente a organização estratégica do povo negro dentro e fora do MNU, mesmo que não sejamos uma organização de massas, assim desprezamos ao longo de nossa história qualquer tipo de vínculo com mandatários individualistas. 
O importante é entendermos que essa concepção política está fundamentada em princípios que balizam a consolidação de uma organização negra autônoma e independente que ao longo de quatro décadas pautou a sociedade brasileira.
Falar de racismo hoje é de conhecimento popular, todos os poderes estão pautados; executivo, legislativo e judiciário. A própria mídia e seus monopólios trazem em seus noticiários a abordagem das relações raciais e admitem a desigualdade de raça em nosso país, embora continuem sendo as principais instituições que sustentam o modelo eurocêntrico. 
Nossa capacidade de intervenção social é tamanha, mesmo 0 MNU não sendo uma organização que dispute o processo eleitoral. O fato é que estamos no jogo do contexto da política brasileira, estamos vivos mais do que nunca, a nossa coerência e posição política reforça nossas bandeiras de lutas e prova diariamente para a sociedade que há racismo, ele é estrutural e institucional e a elite branca burguesa concentra renda e assola a população preta e pobre.
Nosso Balanço também é político e conceitual, como agimos durante um estado de exceção?
Embora com sérios problemas de gestão interna entre nossos próprios dirigentes políticos que beiram o amadorismo e a irresponsabilidade, temos que admitir, convivemos com uma oposição que até agora se concentrou somente em derrotar a ANLU sem apresentar sequer propostas que pudessem colaborar com a instituição durante nossa gestão.
Enquanto os quadros da ANLU se preocupavam com a direção de nossa organização e suas relações institucionais e públicas o campo oposto apresentava ares de conspiração e insurgência contra própria ‘’meta’’, ou seja, o desgaste público do MNU tentando mostrar superioridade e presteza aquém da CON e suas demandas decisórias.
Isto, durante um Golpe de Estado dos mais cruéis da política brasileira.
Se o Balanço é positivo ou negativo cabe à reflexão e análise de nossos filiados em todo Brasil que porventura possam decernir processos comparativos e suas variáveis. 
O fato é que o MNU está vivo e forte, isso não é obra do acaso, existem pessoas de carne e osso, cérebros de lutadores e lutadoras que trouxeram com responsabilidade e dedicação o MNU até o XVIII Congresso Nacional.
Aliás, a própria organização de um Congresso em plena crise política e econômica é o maior exemplo de determinação e incorporação de nosso legado histórico de resistência negra.
A próxima coordenação nacional que assumirá nossa direção terá grandes problemas estruturais como tivemos, mas terá alta credibilidade política e posição estratégica.
Nessa gestão priorizamos a nossa consolidação como organização de vanguarda da esquerda brasileira que dialoga permanentemente com a sociedade e tem projeto político em construção para o país.
Nosso campo de articulação está aberto, temos que fortalecer a Convergência e abrir diálogo com outros setores dos movimentos sociais do campo democrático e popular e consolidar uma Coalizão de Defesa que dispute o poder do Estado Brasileiro.
DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA OS 40 ANOS DO MNU- MOVIMENTO NEGRO.
O século XXI traz uma das maiores crises civilizacionais da história da humanidade. A desterritorialização do povo negro do continente africano em navios infláveis que causam grandes naufrágios e mortes deflagram um contexto de genocídio generalizado de povos e nações africanas. 
A guerra na Síria evidencia uma catástrofe humana e determina o Modelo Realista das grandes potências, teoria que preza pela defesa de território e supremacia econômica e militar. O governo dos EUA expressa desdém com o resto do mundo e prioriza a hegemonia americana sobre outros países prezando unicamente pela segurança de sua população.
 Donald Trump é eleito pela direita reacionária e por trabalhadores de regiões obsoletas e quebradas pela indústria automotiva e da construção civil. O nacionalismo, patriotismo e separação das fronteiras possibilitou o ressurgimento do nazi-fascismo da xenofobia contra imigrantes e a intolerância racial e religiosa.
 Em países como a Ucrânia e URSS gays e lésbicas são institucionalmente segregados por extremistas cristãos e muçulmanos.  Na América Central e Latina o poderio americano intervém retroativamente ao acordo de abertura com o governo cubano. Na Venezuela o governo Maduro enfrenta uma das maiores crises da história do país, altos índices de inflação e descontrole social, político e econômico. 
Somente na Bolívia o governo Evo Morales consegue resistir e manter o enfrentamento institucional com as elites brancas que dominam a indústria e o latifúndio. O caso boliviano é similar, sobre isso refletiremos diante do estado de exceção que passamos no Brasil com o golpe institucional do governo Temer.  Passamos por uma grande recessão e quebra de investimentos no setor público e programas sociais. O desemprego atinge diretamente a população negra que é suprimida do desenvolvimento sócio, político econômico e cultural do pais. A democracia representativa vigente privilegia as elites que dominam os partidos tradicionais com corrupção, transgressão e roubo do dinheiro público.
 A perda cada vez mais de direitos sociais, civis, políticos e econômicos é eminente e concomitante aos benefícios exorbitantes de investimento público em concessões de empresas públicas, privatizações de estatais e compra de votos no congresso nacional. 
A juventude negra está sendo exterminada, os terreiros atacados por criminosos intolerantes e as mulheres negras resistem mas  continuam sofrendo as maiores agruras desse sistema racista, machista e de segregação. 
Essa opressão atinge frontalmente as pessoas que optam por comportamentos, atitudes e opções sexuais fora dos padrões da sociedade judaico-cristã e seus parâmetros religiosos e familiares. 
A afirmação da luta LGBT e a defesa pela liberdade de expressão sem qualquer tipo de preconceito também é um dos pressupostos colocados para a ação política do Movimento Negro Unificado a partir de 2018 em seus 40 anos de luta. 
Como podemos analisar, nossos desafios são complexos e nossas barreiras estruturais.  Racismo e Geopolítica estão correlacionados, então a nossa luta é internacional. 
As fronteiras geográficas estão abertas, imigrantes haitianos e africanos vem para o Brasil diariamente buscando novas oportunidades de trabalho, porém existe uma identidade étnica e territorial que determina o lugar para onde o sujeito deseja morar. 
Nós devemos entender, acolher e dedicar solidariedade e respeito aos nossos irmãos e irmãs de origem africana de vários países que hoje residem no Brasil. 
A defesa de políticas públicas para uma imigração digna deve ser uma das linhas de atuação do MNU diante de um contexto pluriétnico nunca registrado na história do Brasil. 
Esse cenário se dá em plena efervescência da Mercantilização das Cidades e exclusão do povo negro dos grandes centros urbanos dominados por monopólios da construção civil e grupos corporativos que concentram renda e criam conluios com o poder públicos para privatizar o espaço urbano. 
A China, uma potência que assusta parte do mundo, investe na hegemonia da construção civil em vários países do planeta. O governo Angolano encomendou uma cidade inteira de alto padrão para ser construída e instalada no território africano. 
Cidades fantasmas construídas pelo governo chinês como cópias fiéis da Nova Iorque, Paris e agora Rio de Janeiro foram construídas sem habitantes, é uma realidade monstruosa de elitização do espaço urbano. 

Onde moraremos? Você já pensou nisso?

O MNU – Movimento Negro Unificado é um assentamento da resistência negra e um terreiro que traz as insurgências e lutas ancestrais correlacionadas à resistência contemporânea. 
É primordial nossa preparação e organização política para enfrentarmos tantas complexidades de desafios crônicos e emblemáticos. 
A primeira questão é que temos que determinar a concepção, sem dubiedades, de uma organização de vanguarda da esquerda negra brasileira e do campo democrático e popular. 
A segunda, temos que ter um projeto político para a Nação e dialogar com a sociedade e outros grupos sociais. 
A terceira, que tipo de poder queremos? É o institucional com a conquista de governos e representação parlamentar nesse sistema da suposta democracia representativa? 
Ou seria a partir da derrocada da burguesia e reconstrução de nossas instituições de Estado através de uma nova Constituição Democrática e Popular. 
De qualquer forma, primeiramente, temos que definir nossos princípios de organização. 
E, entendermos que a luta contra o Racismo tomou dimensões sociais fora do controle do Movimento Negro Unificado. 
É como fizéssemos uma analogia de uma plantação e uma grande colheita que não tivemos tecnologia para colher ou dirigir mecanismos rudimentares para esse feito; o combate ao racismo tornou-se uma luta ampla de dimensões sociais de vários segmentos, inclusive da burguesia e dos monopólios financistas. 
Hoje todos lutam contra o racismo, a SEPPIR e Fundação Palmares e outros ministérios estão lotados de pessoas negras que apoiam o governo Temer golpista.
 A Rede Globo faz campanha contra o racismo e usa escancaradamente atores negros e negras para faturar milhões de dólares em audiência e propaganda. 
O nosso propósito agora é continuar a luta contra o racismo, porém priorizarmos a articulação estratégica de organização política de grande parte do nosso povo negro para o campo democrático e popular. 
E, obviamente o MNU sendo a grande organização negra brasileira. 
Para isso, temos que ir às bases sociais e disputar a conscientização e politização do nosso povo nas fileiras do MNU. Logo, buscarmos acordos de Coalização de Defesa com outros grupos sociais discriminados e alijados do desenvolvimento do pais. 
O caso da Bolívia, considerando as devidas proporções é emblemático. Etnias indígenas em alto conflito e incompatibilidades históricas se uniram e conquistaram o poder.
Antes disso percorreram um vasto percurso de fortalecimento das bases indígenas em seus diferentes costumes e visão de mundo. 
Em seguida abriram uma agenda internacional intensa, em várias atividades de instituições ligadas à ONU e no Fórum Social Mundial; Década Indígenas e Conferências em vários países.
Fizeram oposição contundente ao governo branco oligárquico e fundaram instituições governamentais indígenas. 
Nesse processo elegeram parlamentares, o presidente da república e mudaram a Constituição. Um bom exemplo para o MNU e o Brasil. Quem apontará os caminhos para uma nova agenda para enfrentarmos esses desafios será o XVIII Congresso Nacional do Movimento Negro Unificado.
Nós da ANLU estamos aqui para construirmos juntos e diante das diferentes concepções políticas e inclusive da  oposta correlação interna de forças políticas.
Um MNU forte e unificado será nosso primeiro passo....

Brasília, 28 de Outubro de 2017.