segunda-feira, 30 de abril de 2018

Plenária ANLU, XVIII Congresso Nacional do MNU. 2017.

XVIII CONGRESSO NACIONAL DO MOVIMENTO NEGRO UNIFICCADO.
CONSTRIBUIÇÃO DA ANLU – A NOSSA LUTA UNIFICADA.
CAMPO DE REFLEXÃO, ANÁLISE E ARTICULAÇÃO POLÍTICA DO MNU – MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO.
QUEM SOMOS?
Um campo do MNU que realizou seu primeiro encontro em 2009,  São Paulo, entre lideranças das antigas correntes   internas de nossa organização que mais atuaram e formularam conceitos e políticas durante a década de 90; Raça e Classe, Raça e Território e Raça, principalmente. 
A ANLU foi fundada em 2010, tem sete anos de existência, sua criação oficial teve como marco um manifesto federativo contra a violência moral às mulheres do MNU deflagrada por um homem que integrou a direção nacional a partir do XVI Congresso Nacional em Itapecerica da Serra, São Paulo.
Nossos princípios são fundamentados no pan-africanismo seus teóricos e na luta nacional e internacional de libertação do povo negro em suas resistências, insurreições e organizações contra a descolonização, hegemonia das elites brancas e concentração de renda pelos monopólios transnacionais sustentados pelo mercado liberal.
Nosso objetivo é articular e fortalecer mecanismos de organização política no campo da esquerda negra para a conquista do poder político do povo negro e aliados do campo democrático e popular em contraponto e oposição aos grupos de interesses financistas que interagem na sociedade e dominam as instituições privadas e sociais. 
Nossa meta foi reorganizar o MNU após meia década de estagnação, 2009-2014, e recolocar nossa organização no cenário primordial entre as maiores organizações da história do movimento negro do Brasil. 
Organizamos o XVII Congresso Nacional em Salvador, em 2014, e agora, três anos após em meio à uma das maiores crises políticas e econômicas da história do país mantivemos a resistência política evidenciando o MNU como a principal organização política de esquerda negra em “atividades cotidianas” de forma autônoma, independente e sem qualquer tipo de alianças com a burguesia econômica ou instituições políticas tradicionais conversadoras do sistema político excludente que vigora no Brasil. 
Somos um coletivo com integrantes de vários estados federativos, inclusive com posições políticas diferenciadas, mas que se articularam contra o exacerbado individualismo e violência moral no interior do MNU que em vários períodos levaram nossa organização à altas vulnerabilidades e desorganização política.
Nosso propósito é construir um campo político essencialmente negro, democrático, LGBT e feminista que contemple as diferenças comportamentais e opções de crenças; e que propicie a articulação estratégica de resoluções e diretrizes para políticas públicas para crianças, adolescentes, juventude, povos tradicionais, comunidades quilombolas e grupos afins integrados no povo negro brasileiro que buscam direitos sociais, civis, políticos e econômicos.
Não somos braços de partidos ou correntes de qualquer instituição branca vigente no país.
Nossa tese teoria apresentada no XVII Congresso, em 2014, está disponível nas redes sociais.
BALANÇO POLÍTICO DE GESTÃO.
De 27 à 29 de Outubro em Brasília estamos realizando um dos maiores congressos de nossa história, esse é o marco final do êxito em nossa gestão.
Ninguém se interessaria por um MNU quebrado ou com falta de credibilidade social.
De março de 2017 até agora mobilizamos em torno de 1.500 lideranças em todo o Brasil.
Nos preocupamos em qualificar a política, não lotar delegações. 
Realizamos vários encontros que encaminharam várias diretrizes e resoluções; Convergência Negra, em Salvador, Sindicalistas e Juventude, Rio de Janeiro, LGBT, Recife, Mulheres, BA e encontros pré-congressuais em todo o pais. 
No início de nossa gestão em 2014 implementamos a campanha pelo Feriado Nacional em 20 de novembro. 
Publicamos um grande volume de publicidades alternativas nas redes sociais.
 Em Porto Alegre em dois anos consecutivos reunidos 8 mil pessoas e apresentamos projeto de lei na gestão do vereador, Antônio Matos do MNU-RS. 
Também houve mobilização e apresentação de projetos em Juiz de Fora-MG.
 O Lançamento da campanha foi em novembro de 2014, 3 mil pessoas, na Terça Negra em Recife, com transmissão pela TV Brasil e pelas redes sociais para vários países do mundo. 
Na área da comunicação produzimos sete programas de veiculação nacional e internacional disponíveis nas redes sociais; Programa Nação, único totalmente com conteúdo afro-brasileiro, em co-produção entre TVE-RS e TV Brasil:  realizamos, programas sobre o Congresso em Salvador, sobre a Terça Negra e Campanha do 20, em Recife, sobre a Convergência Negra no Fórum Social Mundial em 2016, em Porto Alegre. 
O Programa Caminhos das Reportagem da TVE fez a cobertura nacional do lançamento da campanha sobre o feriado do 20 de novembro, no Campo da Tuca, em Porto Alegre em 2015.
Essas veiculações evidenciaram o Movimento Negro Unificado para milhares de pessoas. Na gestão da ANLU, 2014-2017, foi fundada a Convergência Negra composta por mais de 15 organizações do movimento negro brasileiro.
Isto, demonstrou credibilidade política dos nossos dirigentes em relação à confiança política de outras organizações.
A Convergência apesar de ser   um processo incipiente e incluso é a terceira experiência de frente estratégica articulada por nossos quadros desde o início dos anos 2000.
Em 2003, no Fórum Social Mundial fundamos o CAB, Comitê Afro do Brasil, essa integração de 13 organizações nacionais teve papel fundamental na criação do Comitê Internacional de Reparação, com 16 países africanos, bem como a criação da SEPPIR- Secretaria Especial Para Promoção da Igualdade Racial.
Entre , 2008-2010, articulamos o CONNEB, Congresso Nacional de Negras e Negros do Brasil com o propósito de discutir desenvolvimento sócio, político e econômico do Brasil do ponto de vista do povo negro. 
E, agora a Convergência Negra que essencialmente é como uma Coalização de Defesa e Frente Negra contra o estado de exceção do governo Temer e pela democratização.
Vejam que os princípios que norteiam nossos quadros são de fortalecer cotidianamente a organização estratégica do povo negro dentro e fora do MNU, mesmo que não sejamos uma organização de massas, assim desprezamos ao longo de nossa história qualquer tipo de vínculo com mandatários individualistas. 
O importante é entendermos que essa concepção política está fundamentada em princípios que balizam a consolidação de uma organização negra autônoma e independente que ao longo de quatro décadas pautou a sociedade brasileira.
Falar de racismo hoje é de conhecimento popular, todos os poderes estão pautados; executivo, legislativo e judiciário. A própria mídia e seus monopólios trazem em seus noticiários a abordagem das relações raciais e admitem a desigualdade de raça em nosso país, embora continuem sendo as principais instituições que sustentam o modelo eurocêntrico. 
Nossa capacidade de intervenção social é tamanha, mesmo 0 MNU não sendo uma organização que dispute o processo eleitoral. O fato é que estamos no jogo do contexto da política brasileira, estamos vivos mais do que nunca, a nossa coerência e posição política reforça nossas bandeiras de lutas e prova diariamente para a sociedade que há racismo, ele é estrutural e institucional e a elite branca burguesa concentra renda e assola a população preta e pobre.
Nosso Balanço também é político e conceitual, como agimos durante um estado de exceção?
Embora com sérios problemas de gestão interna entre nossos próprios dirigentes políticos que beiram o amadorismo e a irresponsabilidade, temos que admitir, convivemos com uma oposição que até agora se concentrou somente em derrotar a ANLU sem apresentar sequer propostas que pudessem colaborar com a instituição durante nossa gestão.
Enquanto os quadros da ANLU se preocupavam com a direção de nossa organização e suas relações institucionais e públicas o campo oposto apresentava ares de conspiração e insurgência contra própria ‘’meta’’, ou seja, o desgaste público do MNU tentando mostrar superioridade e presteza aquém da CON e suas demandas decisórias.
Isto, durante um Golpe de Estado dos mais cruéis da política brasileira.
Se o Balanço é positivo ou negativo cabe à reflexão e análise de nossos filiados em todo Brasil que porventura possam decernir processos comparativos e suas variáveis. 
O fato é que o MNU está vivo e forte, isso não é obra do acaso, existem pessoas de carne e osso, cérebros de lutadores e lutadoras que trouxeram com responsabilidade e dedicação o MNU até o XVIII Congresso Nacional.
Aliás, a própria organização de um Congresso em plena crise política e econômica é o maior exemplo de determinação e incorporação de nosso legado histórico de resistência negra.
A próxima coordenação nacional que assumirá nossa direção terá grandes problemas estruturais como tivemos, mas terá alta credibilidade política e posição estratégica.
Nessa gestão priorizamos a nossa consolidação como organização de vanguarda da esquerda brasileira que dialoga permanentemente com a sociedade e tem projeto político em construção para o país.
Nosso campo de articulação está aberto, temos que fortalecer a Convergência e abrir diálogo com outros setores dos movimentos sociais do campo democrático e popular e consolidar uma Coalizão de Defesa que dispute o poder do Estado Brasileiro.
DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA OS 40 ANOS DO MNU- MOVIMENTO NEGRO.
O século XXI traz uma das maiores crises civilizacionais da história da humanidade. A desterritorialização do povo negro do continente africano em navios infláveis que causam grandes naufrágios e mortes deflagram um contexto de genocídio generalizado de povos e nações africanas. 
A guerra na Síria evidencia uma catástrofe humana e determina o Modelo Realista das grandes potências, teoria que preza pela defesa de território e supremacia econômica e militar. O governo dos EUA expressa desdém com o resto do mundo e prioriza a hegemonia americana sobre outros países prezando unicamente pela segurança de sua população.
 Donald Trump é eleito pela direita reacionária e por trabalhadores de regiões obsoletas e quebradas pela indústria automotiva e da construção civil. O nacionalismo, patriotismo e separação das fronteiras possibilitou o ressurgimento do nazi-fascismo da xenofobia contra imigrantes e a intolerância racial e religiosa.
 Em países como a Ucrânia e URSS gays e lésbicas são institucionalmente segregados por extremistas cristãos e muçulmanos.  Na América Central e Latina o poderio americano intervém retroativamente ao acordo de abertura com o governo cubano. Na Venezuela o governo Maduro enfrenta uma das maiores crises da história do país, altos índices de inflação e descontrole social, político e econômico. 
Somente na Bolívia o governo Evo Morales consegue resistir e manter o enfrentamento institucional com as elites brancas que dominam a indústria e o latifúndio. O caso boliviano é similar, sobre isso refletiremos diante do estado de exceção que passamos no Brasil com o golpe institucional do governo Temer.  Passamos por uma grande recessão e quebra de investimentos no setor público e programas sociais. O desemprego atinge diretamente a população negra que é suprimida do desenvolvimento sócio, político econômico e cultural do pais. A democracia representativa vigente privilegia as elites que dominam os partidos tradicionais com corrupção, transgressão e roubo do dinheiro público.
 A perda cada vez mais de direitos sociais, civis, políticos e econômicos é eminente e concomitante aos benefícios exorbitantes de investimento público em concessões de empresas públicas, privatizações de estatais e compra de votos no congresso nacional. 
A juventude negra está sendo exterminada, os terreiros atacados por criminosos intolerantes e as mulheres negras resistem mas  continuam sofrendo as maiores agruras desse sistema racista, machista e de segregação. 
Essa opressão atinge frontalmente as pessoas que optam por comportamentos, atitudes e opções sexuais fora dos padrões da sociedade judaico-cristã e seus parâmetros religiosos e familiares. 
A afirmação da luta LGBT e a defesa pela liberdade de expressão sem qualquer tipo de preconceito também é um dos pressupostos colocados para a ação política do Movimento Negro Unificado a partir de 2018 em seus 40 anos de luta. 
Como podemos analisar, nossos desafios são complexos e nossas barreiras estruturais.  Racismo e Geopolítica estão correlacionados, então a nossa luta é internacional. 
As fronteiras geográficas estão abertas, imigrantes haitianos e africanos vem para o Brasil diariamente buscando novas oportunidades de trabalho, porém existe uma identidade étnica e territorial que determina o lugar para onde o sujeito deseja morar. 
Nós devemos entender, acolher e dedicar solidariedade e respeito aos nossos irmãos e irmãs de origem africana de vários países que hoje residem no Brasil. 
A defesa de políticas públicas para uma imigração digna deve ser uma das linhas de atuação do MNU diante de um contexto pluriétnico nunca registrado na história do Brasil. 
Esse cenário se dá em plena efervescência da Mercantilização das Cidades e exclusão do povo negro dos grandes centros urbanos dominados por monopólios da construção civil e grupos corporativos que concentram renda e criam conluios com o poder públicos para privatizar o espaço urbano. 
A China, uma potência que assusta parte do mundo, investe na hegemonia da construção civil em vários países do planeta. O governo Angolano encomendou uma cidade inteira de alto padrão para ser construída e instalada no território africano. 
Cidades fantasmas construídas pelo governo chinês como cópias fiéis da Nova Iorque, Paris e agora Rio de Janeiro foram construídas sem habitantes, é uma realidade monstruosa de elitização do espaço urbano. 

Onde moraremos? Você já pensou nisso?

O MNU – Movimento Negro Unificado é um assentamento da resistência negra e um terreiro que traz as insurgências e lutas ancestrais correlacionadas à resistência contemporânea. 
É primordial nossa preparação e organização política para enfrentarmos tantas complexidades de desafios crônicos e emblemáticos. 
A primeira questão é que temos que determinar a concepção, sem dubiedades, de uma organização de vanguarda da esquerda negra brasileira e do campo democrático e popular. 
A segunda, temos que ter um projeto político para a Nação e dialogar com a sociedade e outros grupos sociais. 
A terceira, que tipo de poder queremos? É o institucional com a conquista de governos e representação parlamentar nesse sistema da suposta democracia representativa? 
Ou seria a partir da derrocada da burguesia e reconstrução de nossas instituições de Estado através de uma nova Constituição Democrática e Popular. 
De qualquer forma, primeiramente, temos que definir nossos princípios de organização. 
E, entendermos que a luta contra o Racismo tomou dimensões sociais fora do controle do Movimento Negro Unificado. 
É como fizéssemos uma analogia de uma plantação e uma grande colheita que não tivemos tecnologia para colher ou dirigir mecanismos rudimentares para esse feito; o combate ao racismo tornou-se uma luta ampla de dimensões sociais de vários segmentos, inclusive da burguesia e dos monopólios financistas. 
Hoje todos lutam contra o racismo, a SEPPIR e Fundação Palmares e outros ministérios estão lotados de pessoas negras que apoiam o governo Temer golpista.
 A Rede Globo faz campanha contra o racismo e usa escancaradamente atores negros e negras para faturar milhões de dólares em audiência e propaganda. 
O nosso propósito agora é continuar a luta contra o racismo, porém priorizarmos a articulação estratégica de organização política de grande parte do nosso povo negro para o campo democrático e popular. 
E, obviamente o MNU sendo a grande organização negra brasileira. 
Para isso, temos que ir às bases sociais e disputar a conscientização e politização do nosso povo nas fileiras do MNU. Logo, buscarmos acordos de Coalização de Defesa com outros grupos sociais discriminados e alijados do desenvolvimento do pais. 
O caso da Bolívia, considerando as devidas proporções é emblemático. Etnias indígenas em alto conflito e incompatibilidades históricas se uniram e conquistaram o poder.
Antes disso percorreram um vasto percurso de fortalecimento das bases indígenas em seus diferentes costumes e visão de mundo. 
Em seguida abriram uma agenda internacional intensa, em várias atividades de instituições ligadas à ONU e no Fórum Social Mundial; Década Indígenas e Conferências em vários países.
Fizeram oposição contundente ao governo branco oligárquico e fundaram instituições governamentais indígenas. 
Nesse processo elegeram parlamentares, o presidente da república e mudaram a Constituição. Um bom exemplo para o MNU e o Brasil. Quem apontará os caminhos para uma nova agenda para enfrentarmos esses desafios será o XVIII Congresso Nacional do Movimento Negro Unificado.
Nós da ANLU estamos aqui para construirmos juntos e diante das diferentes concepções políticas e inclusive da  oposta correlação interna de forças políticas.
Um MNU forte e unificado será nosso primeiro passo....

Brasília, 28 de Outubro de 2017.