Racismo sem limites nas redes sociais
Comissão de Igualdade Racial da OAB-RJ vai acionar MP para Facebook retirar páginas do ar
Constança Rezende
Rio - Racistas estão usando a rede social
Facebook para promover a intolerância racial de maneira aberta, com nome
e sobrenome e sem medo do artigo 5º da Constituição Federal, que
considera a prática crime inafiançável, imprescritível e sujeito à pena
de reclusão. Nas mais de cinco páginas que derivam da frase “O Racismo
Começa” e o “O Racismo Começa Quando”, são publicadas centenas de
ofensas a negros, que são abastecidas com frequência.
São postadas várias fotos do ditador austríaco
Adolf Hitler — que levou a fornos crematórios milhões de judeus e
ciganos durante a Segunda Guerra — associando sua imagem a frases que
incitam o ódio a negros e outras de conteúdo altamente ofensivo. Há
ainda uma foto do cantor americano Michael Jackson, com os dizeres “Quem
tem fé se cura”. Uma das páginas chega a ter 186 mil curtidas, outra,
mais 32 mil.
Reprodução de página do Facebook tem mais de 32 mil ‘curtidas’: imagens e frases contra direitos humanos
Foto: Reprodução
Para o presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-RJ, Marcelo Dias, que soube pelo DIA
da existência das páginas, as publicações são “muito pesadas” e
“povoadas de ódio racial”. “Repudiamos com veemência essas mensagens
racistas que atentam contra a dignidade humana da comunidade negra”,
disse. “Iremos oficiar a Polícia Civil do Rio para identificar os
autores desta ação criminosa e entrar com representação no Ministério
Público para ir na Justiça com uma ação civil pública, obrigando o
Facebook a retirar imediatamente essas mensagens racistas”, declarou.
Dias também afirmou que o racismo tem crescido
porque a legislação não pune quem comete o crime. “No dia em que a
Justiça colocar um desses na cadeia, eles vão pensar duas vezes antes de
destilar esse ódio racial”, disse.
Ódio estaria vinculado à política de inclusão
O superintendente de Igualdade Racial do
estado, Rogério Gomes, afirmou que as páginas têm conteúdo
“flagrantemente” racista e incitam a discriminação. Gomes criticou ainda
“a posição passiva da empresa Google Brasil” pela exibição do conteúdo.
Ele afirmou que enviará ofícios à Polícia Civil para a identificação
dos autores.
“Essas pessoas acham que as mídias sociais são
espaços públicos, e não são. As manifestações se caracterizam ilícitas e
não são livres se violam os direitos humanos. As declarações não são
absolutas, elas devem estar dentro das regras do estado democrático de
direito”, disse.
Gomes avalia que o grande número de comentários
racistas e pessoas aderindo à página podem fazer parte do aumento do
ódio racial vinculado às políticas públicas de inclusão racial. Porém,
afirmou que o povo brasileiro, em sua maioria, não comunga com a
discriminação racial. “Essas páginas são exceções, e como exceções
merecem ser tratadas.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário